É fato que as Irmãs Wachowsky nunca mais
conseguiram repetir o feito (um tanto quanto singular) de criar algo tão
antológico e marcante quanto “Matrix” –nem em suas bem acabadas continuações
elas chegaram a obter esse êxito.
Não que não tivessem tentado: Nas últimas
décadas, eles... ops, desculpem, elas (!) entregaram uma versão live-action
para cinema frenética, ainda que pouco eficaz, do anime “Speed Racer”, e uma
ambiciosa (e presunçosa) adaptação do complexo romance de David Mitchell, “A
Viagem”.
A sua tentativa mais próxima, contudo, de criar
uma saga nos mesmos moldes comerciais de “Matrix” foi mesmo este “O Destino de Júpiter”
que ironicamente parece beber da fonte de outra grande saga da ficção
científica: “Star Wars”.
Embora ainda haja algo que remete ao conceito
de “Matrix” na premissa de um mundo fantástico que se esconde debaixo de uma
fachada de realidade normal, é certamente a criação de George Lucas que mais
influencia os seres extraterrestres e as intrigas espaciais de ordem
intergaláctica que norteiam este filme freqüentemente estranho, onde é difícil
dizer se essa estranheza resulta por ser proposital ou porque as realizadoras
não tiveram desenvoltura para evitá-la.
Interpretada com a habitual solidez da
belíssima Mila Kunis, a protagonista, a jovem Júpiter Jones, vem a ser filha de
imigrantes ucranianos que vivem em Nova York a encarar os revezes de uma vida paupérrima:
Sua rotina é acordar de madrugada e limpar latrinas.
Todavia, Júpiter (cujo nome lhe foi dado pelo
pai, apaixonado astrônomo falecido) como dita a cartilha hollywoodiana de
tramas com tal apelo, não é uma pessoa comum –e isso se nota quando surgem em
seu encalço seres vindos do espaço, uns desejosos de matá-la, outros, de
protegê-la. E nesse ponto, as Wachowsky perdem completamente a chance de
realizarem o aplicado trabalho de ação que exerceram em sua obra mais famosa,
dando às cenas vertiginosas de “Destino de Júpiter” um registro convencional e
desanimado.
A resposta para as atribulações mirabolantes
que se abatem sobre a perplexa protagonista na primeira parte do filme é
inesperada: Júpiter vem a ser a encarnação de uma rainha espacial do passado,
em cuja herança está todo o planeta Terra!
Uma vez que ela, agora descoberta, se tornou
alvo das conspirações de seus próprios herdeiros (entre os quais o mais
proeminente é um efeminado e constrangedor Eddie Redmayne, pouco antes de levar
o Oscar de Melhor Ator por “A Teoria de Tudo”), ela precisa contar com a ajuda
do agente Caine (Channing Tatum, visivelmente o fetiche das diretoras), uma
mistura atlética e supina de canino e humanóide (!), já que afinal todos os
traiçoeiros membros de sua ‘família real’ estão de olho da Terra que, na
realidade, trata-se do maior celeiro (!) de hospedeiros de todo o universo –as
raças mais evoluídas têm uma tecnologia que os permite migrar de um corpo jovem
para outro sem jamais serem alcançados pelo envelhecimento e pela morte.
Assim sendo, tal e qual seu cultuado
"Matrix", as Irmãs Wachowski tentaram criar uma trama inusitada (no
que, a princípio, elas seriam exímias), onde as camadas normais da realidade
ocultam um mundo todo diferente, dotado de mitologia e complexidade próprias.
Sua intenção se perde da pretensão de fazer desta uma nova e grandiloquente
saga –pontuada por suas descabidas reflexões existenciais de botequim –e na
execução frouxa cujos equívocos vão se acumulando até soarem incabíveis: Para
se ter uma idéia do desleixo, existem dois clímax que se sucedem da mesma forma
e com as mesmas justificativas (quase como uma mesma cena repetida duas
vezes!).
O detalhismo rebuscado, e o
esmero visual poderiam até ter feito deste um espetáculo acima da média, não
tivessem desta vez as Wachowski errado de maneira tão espetacular: Esta
tremenda demonstração de negligência resultou em vergonhosas indicações de Piores
do Ano no Framboesa de Ouro 2015, concorrendo diretamente com “Cinqüenta Tonsde Cinza”.
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