segunda-feira, 19 de março de 2018

Uma Noite Alucinante

Era questão de tempo até que Sam Raimi fizesse uma continuação de “Evil Dead”, afinal, o filme o tinha colocado no circuito dos realizadores proeminentes dos anos 1980 aos quais deveria ser prestada atenção e tornou-se imediatamente cult, além de objeto de influência para muitas obras que vieram depois.
Entretanto, foi meio uma surpresa para o público constatar que a continuação que Raimi realizou era um filme bastante diferente do original –e, talvez por isso, ganhou aqui no Brasil a alcunha “Uma Noite Alucinante” no lugar de “A Morte do Demônio”.
O ponto de partida, para falar verdade, não muda coisa alguma: Ash, o personagem sobrevivente do filme anterior (e desta vez, interpretado com ênfase no sarcasmo por Bruce Campbell) retorna à mesma cabana assombrada do filme anterior acompanhado apenas da namorada. E lá, obviamente, as aparições demoníacas, possessões e fenômenos fantasmagóricos voltarão a acontecer.
Se o enredo que este filme retoma não muda em coisa alguma, é o modo como Raimi aborda essa premissa –a rigor a mesma do primeiro filme –que o diferencia daquele que aparentemente ele tenta continuar: O diretor impõe uma auto-paródia flagrante nos desdobramentos do filme ostentando um humor caustico que existia apenas em doses microscópicas no outro filme. Ao mesmo tempo, ele não economiza no sangue e na violência, o quê dá as cenas cômicas um estranhamento desconcertante e desigual (o gênero “terrir”, como passou a ser conhecida a mescla de terror e comédia, era pouco comum na época): Exemplo mais marcante disso é a cena em que Ash tem uma de suas mãos “possuída” e se obriga a cortá-la (!), para em seguida travar uma tensa perseguição por ela pela casa (!!) e depois substituí-la, em seu braço, por uma moto-serra adaptada (!!!).
O estilo de Sam Raimi se acentua, e por fim se consolida neste filme, onde ele leva a extremos sua capacidade de ramificar de forma inacreditável uma trama: O desfecho, onde Ash arremessa todas as assombrações e diabruras num buraco negro (assim como a si mesmo!) é um gancho nítido e incontornável para a terceira parte que veio anos depois, “Uma Noite Alucinante 3-O Exército das Sombras”, com uma imprevista e desconcertante sacada de viagem no tempo: Uma prova de que, num filme orientado pela mente de Sam Raimi, tudo pode acontecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário