quarta-feira, 4 de abril de 2018

Asas do Amor

O cineasta inglês Ian Softley tinha um estilo imediatamente identificável: Seus trabalhos partilhavam de uma mesma vibração frenética e febril, e seus protagonistas eram impelidos pela intensidade do êxtase –na precipitação da juventude, eles primeiro agiam (e reagiam) para depois avaliar as conseqüências de suas ações.
Mão obstante esse padrão, ele passeou por diversos gêneros e trabalhou os mais diferenciados temas.
“Os Cinco Rapazes de Liverpool” (uma audaciosa reconstituição de uma história não contada dos Beatles), “Hackers-Piratas de Computador” (dos primeiros filmes a tratar sobre o tema da informática e a trazer em seu elenco uma ainda jovem e estreante Angelina Jolie) e “As Asas do Amor” (adaptação de um romance de Henry James) são suas obras mais conhecidas, com considerável ênfase no reconhecimento da crítica desse último.
Ele unia –mal comparando –o dinamismo inconformista de Danny Boyle com o atrevido despojamento de Ken Russell. Na teoria pode parecer promissor –e foi isso que ele conseguiu ser em seus melhores momentos –mas, na prática, a verdade é que como autor cinematográfico, Ian Softley foi uma chama fugaz.
Em “Asas do Amor” esse seu inconformismo já fica bem claro na inesperada escalação da atriz Helena Bonham Carter para o papel principal: Ela que o público dificilmente veria como uma mulher audaz, sensual e encantadora surpreendeu (e ganhou uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz!) justamente por injetar audácia, sensualidade e encanto à aristocrática Kate, uma moça que, na primeira década do século XX, vê os excessos do próprio pai (Michael Gambon) esgotarem os recursos financeiros da família. Ela vai morar com uma tia rude e autoritária (Charlotte Rampling) junto de quem encontra duas alternativas: Um casamento devidamente arranjado por ela com algum ricaço que não ama; ou contrariá-la e casar-se com o apaixonado Merton (Linus Roache), por quem Kate é apaixonada também, mas quem ela sabe não ter onde cair morto –e isso, para a ambiciosa Kate é algo inadmissível.
Ironicamente, o destino sinaliza para ela com uma terceira alternativa: Eis que ela conhece a luminosa Millie (Alison Elliott), uma jovem americana rica em visita à Inglaterra.
Millie se interessa por Merton, sem ter a menor idéia de que Kate, sua nova melhor amiga, tem com ele um profundo relacionamento.
E, nos planos de Kate, assim continuará sendo: Ela descobre que Millie tem uma doença que logo irá levá-la, e fazer de Merton um iminente viúvo rico é, para ela, uma oportunidade perfeita para unir o útil (preservar as posses financeiras de sua classe) ao agradável (ficar com o homem que ama).
Na equação de Kate só não entra, porém, o ciúme esmagador ao qual esse arranjo irá submetê-la.
É extremamente interessante –e fonte da curiosidade maior deste filme –o fato de vermos um diretor de orientações tão contemporâneas quanto Ian Softley trabalhar a narrativa de uma produção de época (com toda atenção habitual ao figurino e à direção de arte) e assim mesmo fazer dele algo tão próximo de seu estilo; para tanto, ele abre mão da densidade e do rigor formal que normalmente acompanham o texto nas obras literárias de Henry James fazendo deste um filme palatável, dinâmico e, por que não, jovem.

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