terça-feira, 3 de abril de 2018

O Castelo de Vidro

A crítica teceu comparações entre este filme autobiográfico e o ótimo “Capitão Fantástico”, entretanto, são as diferenças entre os dois filmes que se mostram de fato gritantes, em especial, na empatia que aquele filme obtém com o expectador graças ao trabalho primordial de Viggo Mortensen.
Aqui, o pai e a mãe adeptos de uma existência alternativa vividos por Woody Harrelson e Naomi Watts são eficientes em conquistar a indignação e a injúria do expectador.
Quem termina salvando o filme é a maravilhosa Brie Larson como a filha deles depois de adulta –em cuja personagem, inclusive, repousam as características diferenciais do filme já que assim podemos observar os valores opostos dos filhos de pessoas que escolhem esse meio de vida.
Os próprios Rex e Rose Mary Walls (Harrelson e Naomi) não são exatamente pessoas alternativas; eles estão mais para sem noção mesmo: Ela é artista (e na justificativa desprezível de sua arte, negligencia os quatro filhos pequenos em casa); ele é daqueles filósofos de esquina que, alcoólatra, comete mais erros que aqueles que quer discriminar; se recusam a viver das obrigações e deveres da sociedade, mas usufruem de seu sistema como parasitas; moram de cidade em cidade, às vezes impondo condições subumanas às crianças para não ter de pagar contas a ninguém. Os filhos, Jeanette (Ella Anderson), Brian (Charlie Shotwell), Lori (Sadie Sink, da segunda temporada de “Stranger Things”) e Maureen (Shree Crooks) não tardam a notar isso, porém, enquanto são pequenos nada podem fazer senão viver conforme o estilo de vida caótico, itinerante e inconseqüente dos pais.
Paralelamente à essa sofrida infância, o filme mostra Jeanette já na fase adulta (interpretada muito bem  por Brie), vivendo em Nova York e com casamento marcado.
Rex e Rose Mary seguiram seus filhos –que foram todos morar e trabalhar na metrópole –e vivem como moradores de rua, desejosos de voltar a fazer parte da vida dos filhos.
Baseado no livro de memórias escrito por Jeanette Walls –cujo título, se refere à um projeto que seu pai sonhou em construir, um castelo inteiramente constituído de vidro –este filme dirigido por Destin Daniel Cretton (o mesmo de “Temporário 12” que revelou Brie Larson) tem uma narrativa preguiçosa e unilateral, acomodando-se em fazer dos personagens de Harrelson e Naomi os vilões da história, com as ressalvas do final e de uma ou outra cena antes dele; é difícil não se indignar com o comportamento irresponsável e avoado dos dois –e as coisas ficam piores quando a narrativa se concentra no pai: Normalmente talentoso, Harrelson entrega um personagem detestável, hipócrita, arrogante e apático o que prejudica completamente o desenlace redentor de seu desfecho.

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