quarta-feira, 25 de abril de 2018

Comer Beber Viver

É normal que o público reconheça com mais facilidade as obras mais recentes e aclamadas do diretor Ang Lee, como “O Tigre e O Dragão”, “O Segredo de Brookeback Moutain” e “As Aventuras de Pi” –uma pena que isso relegue a uma certa obscuridade os ótimos trabalhos que ele realizou em início de carreira, na primeira metade do anos 1990, em Taiwan.
Um dos mais brilhantes títulos dessa fase, “Comer Beber Viver” ilustra perfeitamente as virtudes dele como contador de histórias que ele não perdeu ao passear pelos mais diferenciados gêneros e culturas.
Chu (o magnífico Sihung Lung) é um renomado chefe de cozinha tentando se aposentar –embora o restaurante no qual fez sua fama seja incapaz de deixá-lo de lado, sempre requisitando-o para ocasionais ‘emergências’. Chu é também pai de três filhas que ele busca cuidar desde a morte prematura da mulher.
A mais velha, Jia-Jen (Yang Kuei-mei) é uma professora assombrada pela solteirice, cuja convivênia com um novo professor de educação física e com súbitas cartas de amor endereçadas a ela transformam seu comportamento antes passivo.
Já, Jia-Chen (a bela Chien-lien Wu) ostenta ares independentes com os quais consegue esconder certo ressentimento pelo fato do pai não ter deixado que ela seguisse seus passos como cozinheira; em vez disso, ela é uma executiva bem-sucedida às voltas com um inesperado dilema: Aceitar uma promoção de vice-presidente em ir morar em Amsterdã, ou ficar para cuidar do pai num momento da vida de todos em que tudo parece se complicar.
Por fim, a caçula, Jia-Ning (Wang Yu-wen) resolve seus problemas de solidão com uma considerável falta de escrúpulos; faz com que sua melhor amiga se separe do namorado para então conquistá-lo para si.
A marcação emocional, sensorial e factual desses eventos é realizada através do ato de comer: São almoços, jantares e refeições –bem como sua preparação –registrados em minúcias visuais.
Como é de hábito em seu cinema, Ang Lee constrói uma narrativa por meio da qual os percalços desses personagens, sejam eles dramáticos ou bem-humorados, se tornam imensamente prazerosos de serem acompanhados, e nos quais eles adquirem uma textura tão humana que não há como não apegar-se a eles, mesmo diante de uma ou outra atitude reprovável.

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