É normal que o público reconheça com mais
facilidade as obras mais recentes e aclamadas do diretor Ang Lee, como “O Tigre
e O Dragão”, “O Segredo de Brookeback Moutain” e “As Aventuras de Pi” –uma pena
que isso relegue a uma certa obscuridade os ótimos trabalhos que ele realizou
em início de carreira, na primeira metade do anos 1990, em Taiwan.
Um dos mais brilhantes títulos dessa fase,
“Comer Beber Viver” ilustra perfeitamente as virtudes dele como contador de
histórias que ele não perdeu ao passear pelos mais diferenciados gêneros e
culturas.
Chu (o magnífico Sihung Lung) é um renomado
chefe de cozinha tentando se aposentar –embora o restaurante no qual fez sua
fama seja incapaz de deixá-lo de lado, sempre requisitando-o para ocasionais
‘emergências’. Chu é também pai de três filhas que ele busca cuidar desde a
morte prematura da mulher.
A mais velha, Jia-Jen (Yang Kuei-mei) é uma
professora assombrada pela solteirice, cuja convivênia com um novo professor de
educação física e com súbitas cartas de amor endereçadas a ela transformam seu
comportamento antes passivo.
Já, Jia-Chen (a bela Chien-lien Wu) ostenta
ares independentes com os quais consegue esconder certo ressentimento pelo fato
do pai não ter deixado que ela seguisse seus passos como cozinheira; em vez
disso, ela é uma executiva bem-sucedida às voltas com um inesperado dilema:
Aceitar uma promoção de vice-presidente em ir morar em Amsterdã, ou ficar para
cuidar do pai num momento da vida de todos em que tudo parece se complicar.
Por fim, a caçula, Jia-Ning (Wang Yu-wen)
resolve seus problemas de solidão com uma considerável falta de escrúpulos; faz
com que sua melhor amiga se separe do namorado para então conquistá-lo para si.
A marcação emocional, sensorial e factual
desses eventos é realizada através do ato de comer: São almoços, jantares e
refeições –bem como sua preparação –registrados em minúcias visuais.
Como é de hábito em seu
cinema, Ang Lee constrói uma narrativa por meio da qual os percalços desses
personagens, sejam eles dramáticos ou bem-humorados, se tornam imensamente
prazerosos de serem acompanhados, e nos quais eles adquirem uma textura tão
humana que não há como não apegar-se a eles, mesmo diante de uma ou outra
atitude reprovável.
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