Se o público, e especialmente, a crítica
começaram a prestar atenção em Jane Campion pelo gracioso “Sweetie”, tendo sua
consagração vindo através de “O Piano”, pode-se dizer que o ponto de equilíbrio
de sua carreira foi “Um Anjo Em Minha Mesa”, que se coloca exatamente entre
esses dois significativos momentos.
Ela narra –em tintas carregadas de
dramaticidade em estado bruto que passaram a ser habituais nas narrativas de
Campion –a vida de Janet Frame, em três fases distintas e específicas: A
infância, a adolescência e o princípio da maturidade.
Em todas elas, Campion alterna atrizes
incrivelmente semelhantes entre si, num esforço coletivo e interpretativo
notável na construção de uma personalidade difícil, assustada, frágil, mas no
fim, fértil em sensibilidade e inteligência.
Não tarda a notarmos, de fato, a natureza
singular, até mesmo espantosa e alarmante, da trajetória de Janet quando
descobrimos, já na primeira parte do filme que ela passou boa parte da infância
e da vida adolescente internada em um manicômio –sua excessiva timidez foi
erroneamente diagnosticada como esquizofrenia –escapando por muito pouco de uma
lobomotia: Estava prestes a sofrer este procedimento quando chegou a notícia do
inesperado sucesso editorial de seu primeiro livro de poesias (!).
Em contraponto, a essa
primeira e segunda parte claustrofóbica, angustiante, desesperada e triste,
Campion conduz a platéia e sua protagonista (então interpretada pela ótima
Kerry Fox) a uma terceira e última parte luminosa, livre e otimista quando
Janet inicia, já como escritora consagrada, suas relutantes viagens pelo mundo
a conhecer outros escritores e também a se descobrir como mulher.
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