terça-feira, 10 de abril de 2018

Um Anjo Em Minha Mesa

Se o público, e especialmente, a crítica começaram a prestar atenção em Jane Campion pelo gracioso “Sweetie”, tendo sua consagração vindo através de “O Piano”, pode-se dizer que o ponto de equilíbrio de sua carreira foi “Um Anjo Em Minha Mesa”, que se coloca exatamente entre esses dois significativos momentos.
Ela narra –em tintas carregadas de dramaticidade em estado bruto que passaram a ser habituais nas narrativas de Campion –a vida de Janet Frame, em três fases distintas e específicas: A infância, a adolescência e o princípio da maturidade.
Em todas elas, Campion alterna atrizes incrivelmente semelhantes entre si, num esforço coletivo e interpretativo notável na construção de uma personalidade difícil, assustada, frágil, mas no fim, fértil em sensibilidade e inteligência.
Não tarda a notarmos, de fato, a natureza singular, até mesmo espantosa e alarmante, da trajetória de Janet quando descobrimos, já na primeira parte do filme que ela passou boa parte da infância e da vida adolescente internada em um manicômio –sua excessiva timidez foi erroneamente diagnosticada como esquizofrenia –escapando por muito pouco de uma lobomotia: Estava prestes a sofrer este procedimento quando chegou a notícia do inesperado sucesso editorial de seu primeiro livro de poesias (!).
Em contraponto, a essa primeira e segunda parte claustrofóbica, angustiante, desesperada e triste, Campion conduz a platéia e sua protagonista (então interpretada pela ótima Kerry Fox) a uma terceira e última parte luminosa, livre e otimista quando Janet inicia, já como escritora consagrada, suas relutantes viagens pelo mundo a conhecer outros escritores e também a se descobrir como mulher.

Nenhum comentário:

Postar um comentário