Alguns limites do que se supunha possíveis em
filmes de ação –um gênero que ainda se encontrava precário pelas truncadas
filmagens da época –foram rompidos nos anos 1960 pelo arrojo revigorante de
“Bullit”, do diretor Peter Yates.
O astro Steve McQueen, vindo de obras como
“Fugindo do Inferno” e “Papillon”, empresta sua expressão a um só tempo
calejada e displicentemente astuta, para o destemido tenente Frank Bullitt da
polícia de São Francisco.
Sua integridade e eficiência fez de Bullitt um
nome murmurado com admiração pela cidade, e disposto a se aproveitar disso, o
ambicioso e arrogante promotor Chalmers (Robert Vaughn) o requisita quando
precisa do melhor policial para vigiar uma testemunha crucial: O ex-mafioso
Ross cujo depoimento irá entregar alguns figurões do crime organizado de
Chicago.
Na calada da noite, contudo, Ross é alvejado em
seu esconderijo, assim como o jovem policial que tomava conta dele.
Agora, a desenvoltura de Bullitt deve caminhar
por um tênue equilíbrio: De um lado, deve encontrar e prender os envolvidos no
crime; de outro, precisa se esquivar das tentativas insistentes do promotor
Chalmers em transformá-lo num bode expiatório, já prevendo um fracasso
iminente.
Mas, Bullitt comece as malandragens necessárias
para transitar no submundo de corrupção. Sabe os fios certos aos quais puxar, e
compreende as chances que tem de virar o jogo –bem como o momento oportuno para
delas tirar proveito.
É um personagem, uma premissa e um conceito que
têm muito a ver com aquele final da década de 1960 (e ainda mais com a década
de 1970), e que certamente se encaixa como uma luva num ator de atitude
serenamente casca-grossa como McQueen: O homem da lei cujo entendimento das
ruas e de seus códigos o leva a ter um papel singular na odisséia de crime que
se desenrola.
Não à toa, “Bullitt” foi influência para toda
uma gama de produções que se seguiram depois, as mais presunçosas achando que
podiam igualar até mesmo seu grande momento –a cena trepidante, eletrizante e
inacreditável onde o carro do policial persegue pelas ruas de São Francisco, e
depois pelas auto-estradas além, o auto-móvel dos bandidos.
Não podiam: Tão única e antológica é essa cena
que, na autenticidade de seus efeitos práticos e na habilidade real ostentada
pelos dublês a frente das câmeras, ela continua, cinquenta anos depois,
inimitável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário