terça-feira, 24 de julho de 2018

Adeus, Lênin!


Os realizadores europeus, em geral, têm enorme desenvoltura para unir o riso ao comentário político. Não são incomuns suas comédias passearem graciosamente pela sátira ideológica e ainda manter sua leveza –ao contrário dos americanos que preferem abordar esses temas quase sempre com seriedade e até algum fatalismo.
“Adeus, Lênin!”, por exemplo, é construído com uma ironia saborosa aliada ao carisma natural de seus personagens e ao absurdo paradoxalmente possível de sua premissa.
O jovem Alex (o sempre simpático Daniel Bruhl) nasceu na Alemanha dos anos 1960 sob a rigidez ideológica que predominava no lado oriental do Muro de Berlim onde morava com a mãe e a irmã.
Deixados pelo pai (que saiu de casa e não mais voltou numa história muito mal-contada), eles testemunharam sua mãe, nas décadas seguintes, se tornar uma ferrenha defensora do Partido Socialista.
Até que, após um enfarte ao ver Alex ser preso durante uma passeata de protesto, ela entra em coma (!). Era então o final da década de 1980 e, num período de tempo pouco menor que um ano, uma grande mudança ocorre na Alemanha, com a queda do Muro de Berlim e a abertura para todas as influências possíveis do capitalismo: Alex, para se ter idéia, vai trabalhar instalando antenas parabólicas e sua irmã vira atendente do Burger King (!).
Mas, e sua mãe?
Ela desperta meses depois, sob a alegação dos médicos de que sua saúde extremamente frágil não poderia suportar uma emoção muito forte.
Preocupado com a possivelmente fulminante reação dela ao descobrir que a Alemanha a qual dedicou sua vida já não existe mais, Alex engendra um plano intrincado: Levá-la para casa, a fim de convencê-la de que a Alemanha Socialista ainda existe e que o lado oriental do muro ainda se encontra intacto.
Para tanto, Alex se vale de um sem-fim de estratagemas: Precisa achar vidros rotulados, latas e embalagens de produtos da Alemanha Socialista –e que, portanto, desapareceram completamente do mercado –e enchê-los de iguarias frescas para sua mãe achar que ainda existem; edita vídeos com a ajuda de um amigo metido a cineasta, e com ele elabora noticiários fictícios da RDA, onde afirma –na maior cara de pau! –que a Coca-Cola é um produto socialista (!), a fim de justificar um imenso outdoor que surgiu bem de frente à janela dela (!!).
Entre o gracioso e o agridoce, o filme também registra os inevitáveis lampejos de drama que essa situação gera –afinal, o filme do diretor Wolfgang Becker, até para que sua trama faça algum sentido e tenha alguma graça dentro do contexto que criou, se pretende realista.
Nesse sentido é louvável os rumos tomados pelo roteiro no seu último terço, rumos estes que podem causar estranheza aos expectadores mais condicionados à comédias americanas, cujos desenlaces passam da austeridade que este aqui demonstra.
Em meio à esta ode extremamente simpática à família, ainda podemos observar e apreciar a presença no elenco da linda Chulpan Khamatova (de “Luna Papa”).

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