Os realizadores europeus, em geral, têm enorme
desenvoltura para unir o riso ao comentário político. Não são incomuns suas
comédias passearem graciosamente pela sátira ideológica e ainda manter sua
leveza –ao contrário dos americanos que preferem abordar esses temas quase
sempre com seriedade e até algum fatalismo.
“Adeus, Lênin!”, por exemplo, é construído com
uma ironia saborosa aliada ao carisma natural de seus personagens e ao absurdo
paradoxalmente possível de sua premissa.
O jovem Alex (o sempre simpático Daniel Bruhl)
nasceu na Alemanha dos anos 1960 sob a rigidez ideológica que predominava no
lado oriental do Muro de Berlim onde morava com a mãe e a irmã.
Deixados pelo pai (que saiu de casa e não mais
voltou numa história muito mal-contada), eles testemunharam sua mãe, nas
décadas seguintes, se tornar uma ferrenha defensora do Partido Socialista.
Até que, após um enfarte ao ver Alex ser preso
durante uma passeata de protesto, ela entra em coma (!). Era então o final da
década de 1980 e, num período de tempo pouco menor que um ano, uma grande
mudança ocorre na Alemanha, com a queda do Muro de Berlim e a abertura para
todas as influências possíveis do capitalismo: Alex, para se ter idéia, vai
trabalhar instalando antenas parabólicas e sua irmã vira atendente do Burger
King (!).
Mas, e sua mãe?
Ela desperta meses depois, sob a alegação dos
médicos de que sua saúde extremamente frágil não poderia suportar uma emoção
muito forte.
Preocupado com a possivelmente fulminante
reação dela ao descobrir que a Alemanha a qual dedicou sua vida já não existe
mais, Alex engendra um plano intrincado: Levá-la para casa, a fim de
convencê-la de que a Alemanha Socialista ainda existe e que o lado oriental do
muro ainda se encontra intacto.
Para tanto, Alex se vale de um sem-fim de
estratagemas: Precisa achar vidros rotulados, latas e embalagens de produtos da
Alemanha Socialista –e que, portanto, desapareceram completamente do mercado –e
enchê-los de iguarias frescas para sua mãe achar que ainda existem; edita vídeos
com a ajuda de um amigo metido a cineasta, e com ele elabora noticiários
fictícios da RDA, onde afirma –na maior cara de pau! –que a Coca-Cola é um
produto socialista (!), a fim de justificar um imenso outdoor que surgiu bem de
frente à janela dela (!!).
Entre o gracioso e o agridoce, o filme também
registra os inevitáveis lampejos de drama que essa situação gera –afinal, o
filme do diretor Wolfgang Becker, até para que sua trama faça algum sentido e
tenha alguma graça dentro do contexto que criou, se pretende realista.
Nesse sentido é louvável os rumos tomados pelo
roteiro no seu último terço, rumos estes que podem causar estranheza aos
expectadores mais condicionados à comédias americanas, cujos desenlaces passam
da austeridade que este aqui demonstra.
Em meio à esta ode extremamente simpática à
família, ainda podemos observar e apreciar a presença no elenco da linda
Chulpan Khamatova (de “Luna Papa”).
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