terça-feira, 24 de julho de 2018

Mortos de Fome


Uma aventura que versa sobre as conseqüências até mesmo sobrenaturais do canibalismo, este é um filme para paladares muito específicos.
O Capitão John Boyd (vivido por Guy Pierce com uma concepção constante da angústia de existir) é um sobrevivente de uma chacina na qual se transformou uma batalha entre soldados americanos e mexicanos durante a Guerra Civil entre os EUA e o México, em meados do Século XIX.
Sobreviver, para ele representa um pesar que agrega inúmeros fardos a serem carregados –não só a lembrança dos companheiros que morreram, mas também a forma (para ele, hedionda) com a qual foi capaz de sobreviver: Alimentando-se do sangue e da carne dos mesmos amigos mortos, e disso se nutrindo para não sucumbir.
Ironicamente (e ironia é um fator que insiste em se manifestar neste filme), esse fato irá se opor a ele nos desdobramentos de sua próxima empreitada: Enviado para as longínquas montanhas na fronteira canadense, Boyd recebe uma missão quando uma assustada testemunha, Colqhoun (Robert Carlyle), alerta o destacamento onde está para uma expedição da qual só sobreviveu se alimentando da carne daqueles que morreram.
Boyd segue para lá e o quê descobre, junto de outros que não tardam a morrer, é um grupo que aderiu ao canibalismo, do qual Colqhoun é não somente membro como também líder.
E obviamente que Boyd e seus homens, na qualidade de vítimas de seu relato, são assim as presas em potencial do canibal.
Contudo, Boyd já experimentou a sanha por carne humana que os orienta –e compreende a força desigual que esse ato acaba roubando das pessoas devoradas.
De fato, Colqhoun e seu bando crêem que estão não apenas se alimentando, mas adquirindo para si a energia daqueles que matam, como um vampiro que suga o sangue e dele se fortalece.
Em contraponto a essa observação algo mística, mas pouco envolvente do ato do canibalismo, o personagem Boyd –com uma tristeza um pouco excessiva para o tipo de protagonista que precisa ser –nunca deixa de considerar as implicações morais de se devorar um ser da própria espécie, ainda que Colqhoun e o lugar tão distante da civilização em que o filme transcorre tentem oferecer diversos argumentos para deixar de lado tais empecilhos.
No elenco pouco usual (de atores mais comuns em coadjuvantes do que em protagonistas), na junção fatalista de tensão, drama e humor negro, e na narrativa deliberadamente lenta que se desenvolve, mesmo em meio ao seu clímax final, esta é uma produção que desperta estranheza no expectador em função da soma de suas incomuns características.
Foge completamente do óbvio e do escapista, mas não deixa muito claro no quê, afinal de contas, se propõe a ser.

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