Uma aventura que versa sobre as conseqüências
até mesmo sobrenaturais do canibalismo, este é um filme para paladares muito
específicos.
O Capitão John Boyd (vivido por Guy Pierce com
uma concepção constante da angústia de existir) é um sobrevivente de uma
chacina na qual se transformou uma batalha entre soldados americanos e
mexicanos durante a Guerra Civil entre os EUA e o México, em meados do Século
XIX.
Sobreviver, para ele representa um pesar que
agrega inúmeros fardos a serem carregados –não só a lembrança dos companheiros
que morreram, mas também a forma (para ele, hedionda) com a qual foi capaz de
sobreviver: Alimentando-se do sangue e da carne dos mesmos amigos mortos, e
disso se nutrindo para não sucumbir.
Ironicamente (e ironia é um fator que insiste
em se manifestar neste filme), esse fato irá se opor a ele nos desdobramentos
de sua próxima empreitada: Enviado para as longínquas montanhas na fronteira
canadense, Boyd recebe uma missão quando uma assustada testemunha, Colqhoun
(Robert Carlyle), alerta o destacamento onde está para uma expedição da qual só
sobreviveu se alimentando da carne daqueles que morreram.
Boyd segue para lá e o quê descobre, junto de
outros que não tardam a morrer, é um grupo que aderiu ao canibalismo, do qual
Colqhoun é não somente membro como também líder.
E obviamente que Boyd e seus homens, na
qualidade de vítimas de seu relato, são assim as presas em potencial do canibal.
Contudo, Boyd já experimentou a sanha por carne
humana que os orienta –e compreende a força desigual que esse ato acaba
roubando das pessoas devoradas.
De fato, Colqhoun e seu bando crêem que estão
não apenas se alimentando, mas adquirindo para si a energia daqueles que matam,
como um vampiro que suga o sangue e dele se fortalece.
Em contraponto a essa observação algo mística,
mas pouco envolvente do ato do canibalismo, o personagem Boyd –com uma tristeza
um pouco excessiva para o tipo de protagonista que precisa ser –nunca deixa de
considerar as implicações morais de se devorar um ser da própria espécie, ainda
que Colqhoun e o lugar tão distante da civilização em que o filme transcorre
tentem oferecer diversos argumentos para deixar de lado tais empecilhos.
No elenco pouco usual (de atores mais comuns em
coadjuvantes do que em protagonistas), na junção fatalista de tensão, drama e
humor negro, e na narrativa deliberadamente lenta que se desenvolve, mesmo em
meio ao seu clímax final, esta é uma produção que desperta estranheza no
expectador em função da soma de suas incomuns características.
Foge completamente do óbvio e do escapista, mas
não deixa muito claro no quê, afinal de contas, se propõe a ser.
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