quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Caçador de Morte


A primeira perseguição de carro que abre o filme já demonstra claramente a fortíssima influência que este semi-clássico setentista exerceu em “Drive”, de Nicolas Winding Refn: A mesma cena é quase reconstituída também na abertura daquele filme, de modos a recriar o mesmo tom, o mesmo ritmo e a mesma atmosfera do trabalho de Walter Hill.
Como lhe é inerente como realizador em todos os filmes que fez e que viria a fazer depois deste, Hill impõe uma narrativa direta e reta, sem firulas.
Seus personagens são anônimos. Atendem pelas alcunhas genéricas de O Motorista, O Detetive, A Jogadora.
Ao contrário do que se poderia imaginar, Hill encontra até um certo charme nessa superficialidade: Os atores (ótimos, por sinal) se empenham em agregar algum valor psicológico a esses arquétipos e a narrativa se diverte em elaborar seus atritos.
Ryan O’ Neal, com uma gelidez que remete algo de seu trabalho em “Barry Lyndon”, de kubrick, interpreta o Motorista. Não um motorista qualquer mas um hábil piloto de fugas –talento que ele demonstra já na mencionada cena inicial, quando escapa audaciosamente das garras da polícia levando consigo uma dupla qualquer de assaltantes.
Sua fama é tão difundida que o Detetive (Bruce Dern) incumbido do caso já sabe, de antemão, que seria ele o único profissional capaz de perpetrar tal fuga. O problema é relacionar o Motorista ao crime em questão já que a única testemunha ocular realmente válida da ocasião (vivida por Isabele Adjani) vem a ser justamente uma das pessoas envolvidas na armação.
Mas, o faro para larápios do Detetive aos poucos começa a desenrolar o intrincado novelo feito de alianças frágeis entre os envolvidos no crime, levando o Motorista a fazer valer sua astúcia para escapar de quem o deseja preso.
Construído com a propriedade habitual do notável realizador que Walter Hill é, o filme tem lá seus méritos embora se posicione num local meio transitório no que tange à sua importância como filme de gênero e como cinema: Sua produção é visivelmente acima da média, mas na busca por inovação ele chegou consideravelmente atrasado se compararmos a audácia de suas cenas de perseguição com “Bullit” ou “Operação França”, dois brilhantes e marcantes desbravadores do gênero que foram lançados uns anos antes.

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