A primeira perseguição de carro que abre o
filme já demonstra claramente a fortíssima influência que este semi-clássico
setentista exerceu em “Drive”, de Nicolas Winding Refn: A mesma cena é quase
reconstituída também na abertura daquele filme, de modos a recriar o mesmo tom,
o mesmo ritmo e a mesma atmosfera do trabalho de Walter Hill.
Como lhe é inerente como realizador em todos os
filmes que fez e que viria a fazer depois deste, Hill impõe uma narrativa
direta e reta, sem firulas.
Seus personagens são anônimos. Atendem pelas
alcunhas genéricas de O Motorista, O Detetive, A Jogadora.
Ao contrário do que se poderia imaginar, Hill
encontra até um certo charme nessa superficialidade: Os atores (ótimos, por
sinal) se empenham em agregar algum valor psicológico a esses arquétipos e a
narrativa se diverte em elaborar seus atritos.
Ryan O’ Neal, com uma gelidez que remete algo
de seu trabalho em “Barry Lyndon”, de kubrick, interpreta o Motorista. Não um
motorista qualquer mas um hábil piloto de fugas –talento que ele demonstra já
na mencionada cena inicial, quando escapa audaciosamente das garras da polícia
levando consigo uma dupla qualquer de assaltantes.
Sua fama é tão difundida que o Detetive (Bruce
Dern) incumbido do caso já sabe, de antemão, que seria ele o único profissional
capaz de perpetrar tal fuga. O problema é relacionar o Motorista ao crime em
questão já que a única testemunha ocular realmente válida da ocasião (vivida
por Isabele Adjani) vem a ser justamente uma das pessoas envolvidas na armação.
Mas, o faro para larápios do Detetive aos
poucos começa a desenrolar o intrincado novelo feito de alianças frágeis entre
os envolvidos no crime, levando o Motorista a fazer valer sua astúcia para
escapar de quem o deseja preso.
Construído com a propriedade habitual do
notável realizador que Walter Hill é, o filme tem lá seus méritos embora se
posicione num local meio transitório no que tange à sua importância como filme
de gênero e como cinema: Sua produção é visivelmente acima da média, mas na
busca por inovação ele chegou consideravelmente atrasado se compararmos a
audácia de suas cenas de perseguição com “Bullit” ou “Operação França”, dois
brilhantes e marcantes desbravadores do gênero que foram lançados uns anos
antes.
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