segunda-feira, 3 de setembro de 2018

A Primeira Noite de Um Homem


Uma característica bastante notável neste filme de Mike Nichols, audacioso para sua época em inúmeros aspectos, é seu emprego quase inovador da música: Antigamente, canções eram produzidas especialmente para seus filmes. Foi esta produção de Nichols que levou uma proposta mercadologicamente inesperada (embora hoje até pareça bem óbvia) de que o filme e a narrativa em si poderiam ganhar enorme significado emocional acrescidos de uma música previamente conhecida do público.
Neste caso, estamos falando das inebriantes canções da dupla Simon & Garfunkel que pontuam o filme, não apenas a conhecida “Mrs. Robinson”, como também a belíssima “The Sound Of Silence” e outras.
Isso proporciona à trama do rapaz recém-graduado (Dustin Hoffman) que se apaixona pela filha da mulher madura que o seduziu um diferencial que à época poderia ser definido como inigualável.
Benjamin Braddock é jovem e cheio de expectativas para com o futuro –tanto que elas quase parecem oprimi-lo –e Mrs. Robinson (Anne Bancroft) vem a ser a primeira mulher a revelar a ele as intensas nuances a serem experimentadas num relacionamento com o sexo oposto –mesmo que esse relacionamento se mostre basicamente físico e um tanto quanto temperado de cinismo e desilusão da parte dela.
É Elaine (Katharine Ross), entretanto, o elemento inesperado nessa dinâmica: Filha de Mrs. Robinson, ela tem a idade compatível com Benjamin para uma relação mais aceitável ainda que, no princípio, ele queira refutar isso tratando-a com amarga indiferença. O arrependimento que Benjamin sente com esses atos, contudo, o fará ainda mais suscetível aos encantos da jovem.
Ao fim, como toca a uma comédia romântica –seguramente atenta, porém, às características de drama –o rapaz se apaixonará pela moça, sendo a presença da mãe dela (mais existencial do que física) uma barreira para a concretização do romance.
Correspondendo a todos os expedientes dos desenlaces românticos, o diretor Mike Nichols conduz seu filme de maneira a obedecer os códigos de superficialidade e idealização que norteiam esse gênero e que tanto agradam seu público –inclusive com o apoteótico desfecho onde o jovem invade um casamento e confronta todos os participantes para fugir de lá com a noiva –mas, poucos foram os que notaram (entre eles, certamente, os realizadores de “500 Dias Com Ela”) uma ênfase de desmistificador realismo embutido ali, no súbito silêncio que contamina os jovens protagonistas no take final. Como se fosse um ponto de interrogação (e não um ponto final) a deixar uma dúvida existencial e relevante naquilo que os jovens interpretam como um perfeito final feliz.

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