segunda-feira, 3 de setembro de 2018

The Post - A Guerra Secreta


Como em “Lincoln”, Steven Spielberg inicia “The Post” com uma poderosa cena de guerra (e nesse sentido, não há como superestimar o diretor que entregou a obra-prima “O Resgate do Soldado Ryan”) para então mergulhar num tipo completamente diferente de batalha.
A guerra do Vietnam segue seu curso controverso dividindo a opinião pública. O governo Nixon estabelece uma relação autoritária e intransigente com a imprensa como nenhum outro governo o fizera antes. É o princípio da década de 1970 quando o jornal The New York Times publica uma matéria bombástica: Um apanhado inicial de páginas –cuja origem é revelado no prólogo do filme, anos antes –que integra um estudo encomendado pelo então Secretário Norte-Americano de Defesa, Bob McNamara (Bruce Greenwood), sobre os rumos catastróficos tomados pela Guerra do Vietnam e que foram previstos por inúmeros especialistas a despeito da irredutibilidade do governo (e dos vários governantes que por ele passaram) em continuar enviando tropas americanas àquele combate.
O foco da narrativa de Spielberg, no entanto, nãos está nas pessoas de dentro do New York Times –que, quando muito, ganham a face mais ou menos reconhecível do ator Michael Stuhlbarg –mas, sim em seus concorrentes do Washington Post.
A editora Katharine Graham (Meryl Streep, soberba) se equilibra entre as melindrosas negociações com relutantes investidores –tão mais arredios por ver uma mulher à frente da empresa –o tenso e conturbado momento político –que termina fornecendo as mais inesperadas manchetes –e sua amizade genuína e longeva com o próprio ex-secretário McNamara –o que confere às suas decisões acerca das publicações um dilema a mais.
O redator-chefe Ben Bradlee (Tom Hanks, num papel que remete um pouco ao de “Ponte de Espiões”, sua colaboração anterior com Spielberg), junto de sua equipe. persegue por informações essenciais relativas ao envolvimento do governo dos EUA na situação do Vietnam, no que é sempre frustrado pela antecipação do pessoal do New York Times.
Entretanto, na segunda ocasião em que o jornal publica partes do estudo de McNamara, o New York Times recebe um intimidador processo da parte do governo dos EUA. Legalmente, os homens a serviço de Nixon os impedem de prosseguir com sua publicação.
Por uma ironia do destino, esse estudo, quase em sua totalidade, acaba indo parar nas mãos de alguns dos jornalistas do Washington Post, desejosos de perseguir a mesma fonte notável do New York Times.
Agora, porém, Katharine e o Washington Post como um todo têm um problema nas mãos: Devem publicar o estudo de McNamara dando prosseguimento à uma denúncia bombástica que o New York Times foi impedido de fazer, ou deve se omitir a fim de evitar um processo do governo Nixon, o quê poderia prejudicar sua própria funcionalidade como empresa e comprometeria seu futuro e o de seus funcionários.
Embora haja esse pano de fundo inescapavelmente político, o diretor Spielberg –cada vez mais hábil na condução de trama sérias, intrincadas e de linguajar elitista –molda um urgente e empolgante thriller sobre a importância da liberdade de expressão onde seu maior mérito é não somente lançar luz a uma história real brilhante e importante como também fazê-la completamente inteligível ao público, tornando cada guinada de sua história compreensível sem ser didática.
Ele ilustra brilhantemente a circunstância opressora de Katharine e sua constante tentativa de se impor com graciosidade num ambiente empresarial predominantemente masculino, bem como a busca incansável por transparência de Bradlee (aproveitando a oportunidade para capturar cada pérola da reunião em cena de Meryl Streep e Tom Hanks), enquanto registra, com economia louvável de maniqueísmo, os procedimentos adotados pelo governo Nixon durante essa crise optando por um genial desfecho onde termina seu filme no exato instante em que começa “Todos Os Homens Do Presidente” –uma reconstituição, por sua vez, do escândalo de Watergate, com o qual este filme de Spielberg tem imensa proximidade.
Talvez, o mais impressionante de tudo é que praticamente poucos meses antes de entregar um produto escapista e que, ao seu jeito, representa um marco na cultura pop (“Jogador N° 1”), o mesmo Spielberg teve o fôlego incansável para conceber um sério e poderoso thriller político no qual as concessões cada vez mais rasas da indústria pesam bem menos do que a força e o significado de sua história e mensagem: De que a imprensa, em sua obrigação para com o público, não deve e não pode se submeter à vontade de seus governantes.
Uma lição e tanto para a nossa condescendente mídia brasileira.

Um comentário:

  1. A dica de cinema é boa e gostei da resenha. Quando leio que um filme será baseado em fatos reais, automaticamente chama a minha atenção, adoro ver como os adaptam para a tela grande. Particularmente eu gostei deste filme porque é uma historia cheia de incríveis personagens e cenas excelentes. Penso que é um dos melhores filmes de Steven Spielberg. Realmente vale a pena todo o trabalho que a atriz fez, cada detalhe faz que seja um grande filme. É algo muito diferente ao que estávamos acostumados a ver na sua filmografía. Cuida todos os detalhes e como resultado é um dos melhores dela. Eu recomendo.

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