Não havia como deduzir, em meados da década de
1990, que um filme independente e singelo (ainda que assombrosamente inspirado
e surpreendente) vindo da Neo-Zelândia traria uma das mais sensacionais atrizes
que o cinema conheceria nos anos vindouros (Kate Winslet), assim como um
diretor cujas obras viriam a provocar um abalo sísmico sem precedentes em toda
a cultura pop (Peter Jackson e, claro, “O Senhor dos Anéis”).
Entretanto, basta um olhar apurado em “Almas
Gêmeas” para percebermos que as qualidades que fizeram tão notáveis os seus
envolvidos já estavam todas lá sinalizando por meio de uma trama que em mãos
menos capazes renderiam uma homenagem qualquer a Alfred Hithccock, mas nas mãos
de Jackson e sua equipe se torna um brilhante exercício sobre as ramificações
da imaginação e da fantasia que encontram laços com a psicose.
A arredia e taciturna Pauline (Melanie Lynskey)
é uma adolescente na Neo-Zelândia dos anos 1950 cujo nível de desajuste social
e familiar é ainda maior do que o normal.
Ela encontra uma exceção na riquinha Juliette
(Winslet), a nova aluna da escola, filha de pais ricos e artísticos –mas que,
logo se percebe, não dão muita atenção à filha.
Juntas as duas iniciam uma intensa amizade e,
na busca por contornar a insatisfação da realidade, criam um mundo de fantasia
conjunto definido pela adoração ao cantor Mario Lanza, uma relação de amor e
ódio com o cineasta Orson Welles e uma série de referências às obras do cinema
mudo, como “O Golem”.
Empecinhos a todo o momento insistem em tentar
separá-las –a tuberculose crônica de Juliette que a obriga a ser internada; as
ressalvas da família de Pauline que não vêem com bons olhos o relacionamento da
filha com a amiga ganhar conotações homossexuais –e logo, essa isenção da
realidade praticada nesse mundo fantasioso às levará a elaborar um ardil
macabro, direcionando sua frustração para mais atuante de suas antagonistas: A mãe
de Pauline.
Empregando com genialidade a concepção soturna
de um diretor vindo dos filmes de terror, Peter Jackson narra este belíssimo
filme sem fazer concessões a um gênero específico, mas abraçando conceitos e
elementos de todos eles, o que transforma “Almas Gêmeas” numa obra singular em
seus pormenores.
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