Apesar do título pretensioso, o diretor Selton
Mello fez um filme cuja emoção e beleza fazem jus à essa pretensão.
Ator brilhante e reconhecidamente talentoso, em
sua terceira incursão atrás das câmeras (as duas anteriores são “Feliz Natal” e
“O Palhaço”) Selton Mello conta com lirismo insuspeito a história de Toni
Terranova, vivido por Johnny Massaro.
Como protagonista, ele é silencioso,
introspectivo, tímido, o quê só agrega valor aos méritos da narrativa que
passeia por suas impressões ao longo de todo o filme.
Seu pai, como ele mesmo explica, é francês (e
interpretado pelo fantástico Vincent Cassel), e sua mãe (Ondina Clais) é
brasileira.
Se Toni é o eixo da narrativa então esses dois
personagens (bem como seu amor cheio de altos e baixos) são o motor que a impulsona:
Ao regressar para a cidadezinha de Remanso depois de formado, lá pelo ano de
1963, Toni simultaneamente vê a partida do próprio pai.
A razão pela qual ele deixou uma família que
ama é a grande dúvida que passará a perseguir Toni. Como outras questões
também: O dilema quase existencialmente entre duas irmãs completamente
diferentes; Petra (Bia Arantes), desejável, insinuante e inacessível que
atormenta a libido dele e de toda cidade; e Luna (a linda Bruna Linzmeyer) que
o enreda com ternura, compreensão e companheirismo.
Martirizado por essas transições naturais da
vida –e tendo como uma espécie de figura paterna o rude e inepto Paco (o
próprio Selton Mello num equilíbrio preciso entre o divertido e o trágico)
–Toni passa a exercer a função de professor, lecionando francês para alunos
adolescentes do local. E nesse gesto, o filme de Selton Mello se define por
completo: Há todo um esforço narrativo que emula o cinema europeu em geral e o
francês em particular, não somente na presença vivaz e essencial de Vincent
cassel (ator que preza muito o cinema brasileiro), como também nas escolhas
musicais (fundamentais para o clima inebriante das cenas), nas opções estéticas
da direção de fotografia (cujas lentes estilizadas de Walter Carvalho remetem à
“O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” e outras obras de visual arrojado), no
romantismo e na nostalgia quase passional impregnada à trama, e no andamento
lúcido e impecável, mas também desigual e peculiar.
Os últimos vinte minutos de “O Filme da Minha
Vida” são uma amostra da perfeição com que a narrativa consegue unir suas
pontas soltas num todo surpreendente, harmonioso e de aquecer o coração.
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