segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O Homem Sem Sombra


Kevin Bacon não tinha noção de encrenca em que se meteu ao aceitar protagonizar este projeto que atualizava os conceitos de “O Homem Invisível” de H.G. Wells.
Em princípio, era de se imaginar que a equipe de efeitos especiais se encarregaria de tudo, entretanto, o que o diretor Paul Verhoeven tinha em mente era uma aplicação inédita e arrojada de efeitos visuais que tornassem invisíveis um ser humano em cena.
Para tanto, a presença física e o tempo todo palpável de Kevin Bacon, embora sempre em cena é apagada através de truques digitais inéditos (que só não levaram o Oscar de Efeitos Visuais na cerimônia de 2001 porque a Academia tinha em mais alta conta a reconstituição visual do Coliseu realizada em “Gladiador”): Para que isso fosse possível o ator precisou submeter-se a uma das mais dolorosas experiências de sua carreira, onde teve o corpo nu (pois era assim que ele precisava estar em cena) todo pintado de azul ou verde (cores que poderiam ser apagadas no kroma-key) inclusive seus orgãos genitais e seus olhos que eram cobertos por imensas lentes de contato.
Como resultado desse esforço, o filme de Verhoeven revela-se sensacional.
Arrogante e presunçoso, o cientista Sebastian Caine (Kevin Bacon, que ainda por cima entrega uma atuação formidável) lidera uma equipe de técnicos empenhados em buscar o segredo da invisibilidade: Numa das primeiras cenas vemos a surpreendente experiência ser submetida num gorila.
Uma série de incertezas científicas emperra o projeto, mas Sebastian está convicto de que um teste em seres humanos deve ser feito. Desejoso do reconhecimento, o egocêntrico Sebastian decide ser, ele próprio, cobaia da própria experiência e sujeita-se a ser o primeiro ser humano tornado virtualmente invisível –e a sequência em que a invisibilidade se torna possível, onde testemunhamos o corpo do protagonista desaparecer, camada após camada, é digna de palmas!
Contudo, efeitos colaterais inesperados acontecem (e se intensificam quando o procedimento se revela irreversível): A solidão completamente de sua condição, bem como as inúmeras posssibilidades morais e imorais à sua disposição levam Sebastian a abandonar seus escrúpulos –o que não se vê, afinal, não convém à punição –e ele gradativamente se torna mais perigoso, traiçoeiro e implacável.
E certamente isso se mostra particular arriscado para sua ex-namorada Linda McKay (Elisabeth Shue), membro de sua própria equipe, que agora namora às escondidas, o pesquisador e amigo de Sebastian, Dr. Matthew Kensington (Josh Brolin).
A despeito dos efeitos especiais inquestionavelmente espetaculares e da fantástica presença de Kevin Bacon, “O Homem Sem Sombra”, ainda assim, se torna o filme memorável que é graças ao tom de imprevisibilidade conferido pela narrativa de Paul Verhoeven que corajosamente agrega à premissa deste filme comercial elementos como violência, nudez e sexo (comuns à sua filmografia, mas certamente transgressivos em uma obra hollywoodiana como esta). E olha que os produtores ainda pressionaram para que fosse deletada uma infame cena de estupro que faria parte essencial do roteiro.

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