Kevin Bacon não tinha noção de encrenca em que
se meteu ao aceitar protagonizar este projeto que atualizava os conceitos de “O
Homem Invisível” de H.G. Wells.
Em princípio, era de se imaginar que a equipe
de efeitos especiais se encarregaria de tudo, entretanto, o que o diretor Paul
Verhoeven tinha em mente era uma aplicação inédita e arrojada de efeitos
visuais que tornassem invisíveis um ser humano em cena.
Para tanto, a presença física e o tempo todo
palpável de Kevin Bacon, embora sempre em cena é apagada através de truques
digitais inéditos (que só não levaram o Oscar de Efeitos Visuais na cerimônia
de 2001 porque a Academia tinha em mais alta conta a reconstituição visual do
Coliseu realizada em “Gladiador”): Para que isso fosse possível o ator precisou
submeter-se a uma das mais dolorosas experiências de sua carreira, onde teve o
corpo nu (pois era assim que ele precisava estar em cena) todo pintado de azul
ou verde (cores que poderiam ser apagadas no kroma-key) inclusive seus orgãos
genitais e seus olhos que eram cobertos por imensas lentes de contato.
Como resultado desse esforço, o filme de
Verhoeven revela-se sensacional.
Arrogante e presunçoso, o cientista Sebastian
Caine (Kevin Bacon, que ainda por cima entrega uma atuação formidável) lidera uma
equipe de técnicos empenhados em buscar o segredo da invisibilidade: Numa das
primeiras cenas vemos a surpreendente experiência ser submetida num gorila.
Uma série de incertezas científicas emperra o
projeto, mas Sebastian está convicto de que um teste em seres humanos deve ser
feito. Desejoso do reconhecimento, o egocêntrico Sebastian decide ser, ele
próprio, cobaia da própria experiência e sujeita-se a ser o primeiro ser humano
tornado virtualmente invisível –e a sequência em que a invisibilidade se torna
possível, onde testemunhamos o corpo do protagonista desaparecer, camada após
camada, é digna de palmas!
Contudo, efeitos colaterais inesperados acontecem
(e se intensificam quando o procedimento se revela irreversível): A solidão
completamente de sua condição, bem como as inúmeras posssibilidades morais e
imorais à sua disposição levam Sebastian a abandonar seus escrúpulos –o que não
se vê, afinal, não convém à punição –e ele gradativamente se torna mais
perigoso, traiçoeiro e implacável.
E certamente isso se mostra particular arriscado
para sua ex-namorada Linda McKay (Elisabeth Shue), membro de sua própria
equipe, que agora namora às escondidas, o pesquisador e amigo de Sebastian, Dr.
Matthew Kensington (Josh Brolin).
A despeito dos efeitos especiais
inquestionavelmente espetaculares e da fantástica presença de Kevin Bacon, “O
Homem Sem Sombra”, ainda assim, se torna o filme memorável que é graças ao tom
de imprevisibilidade conferido pela narrativa de Paul Verhoeven que
corajosamente agrega à premissa deste filme comercial elementos como violência,
nudez e sexo (comuns à sua filmografia, mas certamente transgressivos em uma
obra hollywoodiana como esta). E olha que os produtores ainda pressionaram para
que fosse deletada uma infame cena de estupro que faria parte essencial do
roteiro.
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