quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O Amante Duplo


O grande François Ozon, ao se reunir com sua estrela de “Jovem & Bela”, Marine Vacth, volta a obter um interessante resultado, desta vez, vislumbrando as facetas insólitas de um relacionamento sempre com sua peculiar atenção aos ângulos inesperados que abreviam nossa percepção da realidade.
Longe da adolescente sexualizada do outro filme, Marine (belíssima, diga-se) vive aqui uma personagem adulta, ela é Chloé cujas dores de estômago constantes e aflitivas não encontram diagnóstico dos médicos. Ela procura por ajuda psiquiátrica quando sugerem que seu mal pode ser psicossomático.
O psiquiatra que a atende é Paul (Jérémie Renier, presença assídua nos filmes dos Irmãos Dardenne).
Ao longo da terapia, no entanto, o envolvimento deles extrapola a relação médico-paciente, e Paul decide encerrar a terapia, recomendando à Chloe uma colega para continuar seu tratamento.
Contudo, Chloe descobre, por acaso, que Paul –com quem passa a morar –tem um irmão gêmeo sobre quem ele nunca lhe falou. Esse irmão, Louis, é também ele psiquiatra; e Chloe aproveita a deixa para prosseguir seu tratamento com ele, sem que Paul fique sabendo.
No avanço das sessões, fica claro que Paul e Louis têm índoles diferentes: Se Paul é carinhoso e compreensivo, Louis é beligerante e provocador –e, nessa atitude, ele pouco a pouco arranca a verdade de Chloe, terminando por fazer dela sua amante, numa aparente forma de retomar uma rivalidade feroz com o irmão. Fator que aparentemente os separou.
À medida que a circunstância desse triângulo amoroso se ressalta, inclusive com o surgimento de novos indícios e segredos envolvendo os gêmeos, a narrativa de Ozon vai também se multifacetando, espatifando-se em possibilidades desconcertantes não só acerca do fato de que ambos os irmãos podem não ser o quê desde o início aparentavam, mas também sobre a preocupante constatação de que a realidade na qual Chloe vivia por ser mais frágil do que ela mesma pensava.
Valendo-se de recursos não tão inéditos em sua filmografia (quem assistiu o primordial “Swiming Pool-À Beira da Piscina” vai perceber que aquele desfecho inusitado não é incomum à Ozon), o diretor constrói um suspense palpitante, elegante e instigante. Sedutor e enigmático o bastante para fazer com que o expectador seja tentado a assisti-lo mais de uma vez.

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