sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Piranha


Na cena que abre “Piranha”, o diretor Alexandre Aja já eleva suas pretensões mirando numa referência não ao clássico B de Joe Dante que ele aqui refilma, mas no clássico genuíno que o próprio filme de Dante emulava –“Tubarão”, de Steven Spielberg –ao colocar em cena o ator Richard Dreyfuss (membro do elenco daquele filme) num personagem muito similar (e com figurinos similares!) só para morrer minutos depois.
Integrante de uma expressiva leva de jovens realizadores franceses que fizeram notáveis obras de terror na década de 2000, Alexander Aja (que também dirigiu a refilmagem de “Quadrilha de Sádicos”, o estilizado “Viagem Maldita”) parece compreender os elementos que compõe a diversão do cinema bagaceira –ao qual “Piranha” sempre orgulhosamente se incluiu –e os potencializa aqui; leia-se, sangue, violência e nudez em doses cavalares para o público adolescente.
Vindo de um lago subterrâneo que um terremoto deu acesso à superfície, um cardume de piranhas pré-históricas ganha um verdadeiro banquete: Acabam libertadas quando a cidadezinha de Victoria Lake vive seu auge turístico das férias de primavera –uma putaria generalizada que os americanos costumam chamar de ‘spring break’ –e seus lagos se encontram apinhado de jovens de biquíni, para desespero da xerife do lugar, vivida por Elisabeth Shue.
Seu pesadelo, aliás, é duplo: Além dos banhistas que não tardam a virar comida de peixe, seu filho mais velho Jake (Steve R. McQueen), ao invés de cuidar dos caçulas, envereda num tour pelos lagos da região ao lado da espevitada Kelly (Jessica Szohr), ciceroneando o cineasta pornô Derrick Jones (Jerry O’ Connell, de “Conta Comigo”, num apropriado histrionismo) e duas beldades espetaculares, atrizes pornô em potencial (uma delas a absurdamente deliciosa Kelly Brook). O grupo logo é cercado pelas implacáveis piranhas cuja sanha de sangue e vísceras o filme não tem pudor em escancarar.
Não verdade, esse teor apelativo e sensacionalista acaba se mostrando sua grande diversão. Paradoxalmente, o filme de Aja derrapa mesmo nos momentos em que tenta se levar a sério: No romance de convenção entre Jake e Kelly; na tensão por assim dizer que cerca os personagens adultos e numa série de desnecessários subterfúgios científicos para justificar a natureza das piranhas –que se mantém inverossímil no final das contas.

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