Na cena que abre “Piranha”, o diretor Alexandre
Aja já eleva suas pretensões mirando numa referência não ao clássico B de Joe
Dante que ele aqui refilma, mas no clássico genuíno que o próprio filme de
Dante emulava –“Tubarão”, de Steven Spielberg –ao colocar em cena o ator
Richard Dreyfuss (membro do elenco daquele filme) num personagem muito similar
(e com figurinos similares!) só para morrer minutos depois.
Integrante de uma expressiva leva de jovens
realizadores franceses que fizeram notáveis obras de terror na década de 2000,
Alexander Aja (que também dirigiu a refilmagem de “Quadrilha de Sádicos”, o
estilizado “Viagem Maldita”) parece compreender os elementos que compõe a
diversão do cinema bagaceira –ao qual “Piranha” sempre orgulhosamente se
incluiu –e os potencializa aqui; leia-se, sangue, violência e nudez em doses
cavalares para o público adolescente.
Vindo de um lago subterrâneo que um terremoto
deu acesso à superfície, um cardume de piranhas pré-históricas ganha um
verdadeiro banquete: Acabam libertadas quando a cidadezinha de Victoria Lake
vive seu auge turístico das férias de primavera –uma putaria generalizada que
os americanos costumam chamar de ‘spring break’ –e seus lagos se encontram
apinhado de jovens de biquíni, para desespero da xerife do lugar, vivida por
Elisabeth Shue.
Seu pesadelo, aliás, é duplo: Além dos
banhistas que não tardam a virar comida de peixe, seu filho mais velho Jake
(Steve R. McQueen), ao invés de cuidar dos caçulas, envereda num tour pelos
lagos da região ao lado da espevitada Kelly (Jessica Szohr), ciceroneando o
cineasta pornô Derrick Jones (Jerry O’ Connell, de “Conta Comigo”, num
apropriado histrionismo) e duas beldades espetaculares, atrizes pornô em
potencial (uma delas a absurdamente deliciosa Kelly Brook). O grupo logo é
cercado pelas implacáveis piranhas cuja sanha de sangue e vísceras o filme não
tem pudor em escancarar.
Não verdade, esse teor apelativo e
sensacionalista acaba se mostrando sua grande diversão. Paradoxalmente, o filme
de Aja derrapa mesmo nos momentos em que tenta se levar a sério: No romance de
convenção entre Jake e Kelly; na tensão por assim dizer que cerca os
personagens adultos e numa série de desnecessários subterfúgios científicos
para justificar a natureza das piranhas –que se mantém inverossímil no final
das contas.
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