quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Os Incríveis 2


A despeito de ter sido feita uns catorze anos depois, esta continuação honra o filme original a ponto de continuar praticamente da cena em que ele se acaba –quando um certo vilão Escavador aparece para aprontar das suas.
Há um breve e divertido prólogo, onde vemos a cena do ponto de vista de um personagem coadjuvante –um detalhe que até terá alguma importância mais a frente –e o filme prossegue para mostrar que, apesar das aparências, o que pareceu ser um final feliz em 2004, terminou sendo uma continuidade espontânea e bastante notável para a trama.
O interlúdio contra o Escavador mostrou algo para a Família Pêra: Que esse breve retorno como heróis não foi assim tão boa ideia –tudo o que a opinião pública viu foram que eles estavam dentro de uma máquina perfuratriz que destruiu vários prédios da cidade. Com os agentes federais deixando-os de lado por conta disso e com sua casa destruída (no final, do primeiro filme, lembra-se?), eles têm que se contentar com as acomodações pouco lisonjeiros de um motel.
É quando o roteiro dá início à trama deste filme por assim dizer. O Sr. Incrível Roberto (voz de Graig T. Nelson, maravilhosamente dublado em português por Márcio Seixas), Helena a Mulher-Elástica (voz de Holly Hunter) e Gelado (voz de Samuel L. Jackson) são chamados por um casal de irmãos milionários e empreendedores.
O plano deles é honrar a adoração que o falecido pai nutria pelos super-heróis, e ajuda-los a reverter a lei que, desde o princípio do filme anterior, os fez ilegais e impediu sua atividade nos últimos quinze anos.
Para tanto, os irmãos têm um plano arrojado: Querem televisionar toda a ação super-heróica para trazer a opinião pública para o seu lado. Na fase inicial de tal plano, é a Mulher-Elástica quem termina sendo a escolha perfeita.
Há, pois, uma inversão, portanto, da premissa do filme original –se antes, era o Sr. Incrível quem, movido por insatisfação e tédio, acabava capitaneando a ação; agora, é sua esposa quem assume algum protagonismo, não que as cenas domésticas, quando o Incrível tem de cuidar dos três filhos e descobre a demanda que isso exige, não tenham sua importância dentro da trama.
Na verdade, na junção para lá de esperta que a narrativa promove entre todas as facetas que se dispõe a trabalhar, “Os Incríves 2” se mostra nitidamente mais bem resolvido que o primeiro filme. Cada personagem é essencial para a história –desde Helena, magnificamente bem aproveitada neste filme, passando pelo Sr. Incrível e suas incertezas e inseguranças, até chegar às crianças, com a graciosidade de Flecha, a evolução interessantíssima de Violeta e, por fim, o melhor personagem de todos, o bebê Zezé, cujos vastos poderes são descobertos aqui.
Como no primeiro filme, o gracejo e inocência inerente à Disney e à Pixar escondem uma premissa magistralmente concebida pelo diretor Brad Bird que aproveita elementos de “Watchmen” ao vislumbrar um mundo lidando com a existência de super-heróis.
Se o primeiro “Os Incríveis” era uma grata surpresa em termos estéticos e temáticos –até por ser o primeiro longa animado onde e Pixar nomeava humanos como protagonistas –este segundo expande de modo sensacional aquela mitologia, inclusive, desta vez enfatizando com indiscutível habilidade os aspectos geniais na concepção desses personagens.

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