A despeito de ter sido feita uns catorze anos
depois, esta continuação honra o filme original a ponto de continuar
praticamente da cena em que ele se acaba –quando um certo vilão Escavador
aparece para aprontar das suas.
Há um breve e divertido prólogo, onde vemos a
cena do ponto de vista de um personagem coadjuvante –um detalhe que até terá
alguma importância mais a frente –e o filme prossegue para mostrar que, apesar
das aparências, o que pareceu ser um final feliz em 2004, terminou sendo uma
continuidade espontânea e bastante notável para a trama.
O interlúdio contra o Escavador mostrou algo
para a Família Pêra: Que esse breve retorno como heróis não foi assim tão boa
ideia –tudo o que a opinião pública viu foram que eles estavam dentro de uma
máquina perfuratriz que destruiu vários prédios da cidade. Com os agentes
federais deixando-os de lado por conta disso e com sua casa destruída (no
final, do primeiro filme, lembra-se?), eles têm que se contentar com as
acomodações pouco lisonjeiros de um motel.
É quando o roteiro dá início à trama deste
filme por assim dizer. O Sr. Incrível Roberto (voz de Graig T. Nelson,
maravilhosamente dublado em português por Márcio Seixas), Helena a
Mulher-Elástica (voz de Holly Hunter) e Gelado (voz de Samuel L. Jackson) são
chamados por um casal de irmãos milionários e empreendedores.
O plano deles é honrar a adoração que o
falecido pai nutria pelos super-heróis, e ajuda-los a reverter a lei que, desde
o princípio do filme anterior, os fez ilegais e impediu sua atividade nos
últimos quinze anos.
Para tanto, os irmãos têm um plano arrojado:
Querem televisionar toda a ação super-heróica para trazer a opinião pública
para o seu lado. Na fase inicial de tal plano, é a Mulher-Elástica quem termina
sendo a escolha perfeita.
Há, pois, uma inversão, portanto, da premissa
do filme original –se antes, era o Sr. Incrível quem, movido por insatisfação e
tédio, acabava capitaneando a ação; agora, é sua esposa quem assume algum
protagonismo, não que as cenas domésticas, quando o Incrível tem de cuidar dos
três filhos e descobre a demanda que isso exige, não tenham sua importância
dentro da trama.
Na verdade, na junção para lá de esperta que a
narrativa promove entre todas as facetas que se dispõe a trabalhar, “Os
Incríves 2” se mostra nitidamente mais bem resolvido que o primeiro filme. Cada
personagem é essencial para a história –desde Helena, magnificamente bem
aproveitada neste filme, passando pelo Sr. Incrível e suas incertezas e
inseguranças, até chegar às crianças, com a graciosidade de Flecha, a evolução
interessantíssima de Violeta e, por fim, o melhor personagem de todos, o bebê
Zezé, cujos vastos poderes são descobertos aqui.
Como no primeiro filme, o gracejo e inocência inerente
à Disney e à Pixar escondem uma premissa magistralmente concebida pelo diretor
Brad Bird que aproveita elementos de “Watchmen” ao vislumbrar um mundo lidando
com a existência de super-heróis.
Se o primeiro “Os Incríveis” era uma grata
surpresa em termos estéticos e temáticos –até por ser o primeiro longa animado
onde e Pixar nomeava humanos como protagonistas –este segundo expande de modo
sensacional aquela mitologia, inclusive, desta vez enfatizando com indiscutível
habilidade os aspectos geniais na concepção desses personagens.
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