sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Uma Noite Fora de Série


O humor excessivamente norte-americano dos comediantes Steve Carell e Tina Fey é baseado na circunstância da ‘saia justa’, da vergonha alheia. Quando acertam, eles conseguem extrair pérolas cômicas de algumas situações. Quando não, o constrangimento passa facilmente para quem assiste.
Dirigido por Shawn Levy, um especialista em musicais, comédias e filmes inofensivos, “Uma Noite Fora de Série” oscila entre esses dois extremos qualitativos.
É na totalidade de sua duração um programa familiar, com uma ligeira intervenção de situações um pouco mais escabrosas que deixam a dúvida se os realizadores optaram por esse humor mais pesado momentaneamente ou se foi um lapso.
Tina e Carell são Phil e Claire Foster, um casal suburbano de meia idade enfrentando uma crise de monotonia que acomete várias relações; paira sobre eles, o fantasma da separação de um casal de amigos (vividos por Mark Ruffalo e Kristen Wiig, as primeiras das inúmeras participações estelares que estão por vir) e o medo de que tal desfecho pode ocorrer a eles também.
Dispostos e ter uma noite revigorante de sexta-feira, eles vão a um badalado restaurante e, enfastiados da lista de espera para uma mesa, resolvem se passar por um outro casal que fez reserva perante a recepcionista (Olivia Munn) –e a partir dessa artimanha gaiata, a premissa dá seu ponto de partida.
Como numa caricatura de Hitchcock, eles são confundidos com misterioso casal (que descobrem ser, mais tarde, James Franco e Mila Kunis) cuja identidade travessamente resolveram assumir. Entretanto, como logo descobrirão, esse casal está sendo perseguido por policiais corruptos (Common e Jimmi Simpson) a serviço da máfia (o gangster maioral é ninguém menos que Ray Liotta) por conta de revelações comprometedoras.
Além disso, cruzam-se com a policial honesta vivida por Taraji P. Henson e com o casal interpretado por Mark Wahlberg e uma Gal Gadot “pré-Mulher Maravilha”.
Eu mencionei Alfred Hitchcock, mas na verdade, tão logo as confusões começam a se empilhar uma após a outra levando o desafortunado casal a uma noite infernal, é outra referência que acaba vindo à mente: “Depois de Horas”, de Martin Scorsese.
Como naquele filme, os protagonistas se vêem tão aturdidos quanto o expectador, mergulhados numa trama que nem eles mesmos entendem, impedidos, situação após situação de simplesmente voltar para casa –e ainda por cima, com o ostensivo cenário da noite nova-iorquina como pano de fundo.
Contudo, se o filme de Scorsese tinha na comédia uma salutar reflexão sobre valores e solidão, o filme com Steve Carell e Tina Fey só tem a intenção de extrair algumas risadas do expectador –saldo que, mesmo despretensioso, quase acaba no vermelho.

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