O humor excessivamente norte-americano dos
comediantes Steve Carell e Tina Fey é baseado na circunstância da ‘saia justa’,
da vergonha alheia. Quando acertam, eles conseguem extrair pérolas cômicas de
algumas situações. Quando não, o constrangimento passa facilmente para quem
assiste.
Dirigido por Shawn Levy, um especialista em
musicais, comédias e filmes inofensivos, “Uma Noite Fora de Série” oscila entre
esses dois extremos qualitativos.
É na totalidade de sua duração um programa
familiar, com uma ligeira intervenção de situações um pouco mais escabrosas que
deixam a dúvida se os realizadores optaram por esse humor mais pesado
momentaneamente ou se foi um lapso.
Tina e Carell são Phil e Claire Foster, um
casal suburbano de meia idade enfrentando uma crise de monotonia que acomete
várias relações; paira sobre eles, o fantasma da separação de um casal de
amigos (vividos por Mark Ruffalo e Kristen Wiig, as primeiras das inúmeras
participações estelares que estão por vir) e o medo de que tal desfecho pode
ocorrer a eles também.
Dispostos e ter uma noite revigorante de
sexta-feira, eles vão a um badalado restaurante e, enfastiados da lista de
espera para uma mesa, resolvem se passar por um outro casal que fez reserva
perante a recepcionista (Olivia Munn) –e a partir dessa artimanha gaiata, a
premissa dá seu ponto de partida.
Como numa caricatura de Hitchcock, eles são
confundidos com misterioso casal (que descobrem ser, mais tarde, James Franco e
Mila Kunis) cuja identidade travessamente resolveram assumir. Entretanto, como
logo descobrirão, esse casal está sendo perseguido por policiais corruptos
(Common e Jimmi Simpson) a serviço da máfia (o gangster maioral é ninguém menos
que Ray Liotta) por conta de revelações comprometedoras.
Além disso, cruzam-se com a policial honesta
vivida por Taraji P. Henson e com o casal interpretado por Mark Wahlberg e uma
Gal Gadot “pré-Mulher Maravilha”.
Eu mencionei Alfred Hitchcock, mas na verdade,
tão logo as confusões começam a se empilhar uma após a outra levando o
desafortunado casal a uma noite infernal, é outra referência que acaba vindo à
mente: “Depois de Horas”, de Martin Scorsese.
Como naquele filme, os protagonistas se vêem
tão aturdidos quanto o expectador, mergulhados numa trama que nem eles mesmos
entendem, impedidos, situação após situação de simplesmente voltar para casa –e
ainda por cima, com o ostensivo cenário da noite nova-iorquina como pano de
fundo.
Contudo, se o filme de Scorsese tinha na
comédia uma salutar reflexão sobre valores e solidão, o filme com Steve Carell
e Tina Fey só tem a intenção de extrair algumas risadas do expectador –saldo
que, mesmo despretensioso, quase acaba no vermelho.
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