Em todos os projetos que realizou antes e
depois –a despeito dos resultados francamente notáveis em muitos deles –parecia
que o diretor Jean-Pierre Jeneaut sempre perseguiu um tom e um equilíbrio entre
seu visual sempre arrojado e uma narrativa lúdica, criativa e peculiar aos
quais ele só chegou de fato em “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”.
Nota-se com perfeição essa aspiração em
“Micmacs”.
O comediante francês Dany Boon interpreta Bazil
cuja infância melancólica na qual perdeu o pai, soldado, para uma mina
terrestre (!), foi sucedida por uma vida adulta marcada pela ocasião em que
levou um tiro na própria testa (!!).
Bazil, contudo, não morreu: Entre remover-lhe o
projétil da cabeça (condenando-o a uma vida vegetativa) e mantê-lo lá (sob o
risco de morrer a qualquer momento), os médicos optaram pela segunda
alternativa –e, desde então, o stress e a tensão em níveis exorbitantes
disparam cacoetes imprevisíveis que o pobre Bazil lança mão de técnicas um
tanto bizarras para controlar.
Após um período como morador de rua, Bazil
conhece o velho Cadeia (Jean-Pierre Marielle) que lhe apresenta um grupo muito
curioso (como é curioso tudo que cerca esse estranho universo onde Jeneaut
ambienta seus filmes): Os moradores de um esconderijo num ferro velho, especialistas
em reciclar todos os tipos de material. Há o homem-bala aposentado cujo mérito
ele teve o infortúnio de jamais ver reconhecido (Dominique Pinon, quase um
ator-assinatura de Jeneaut); a mulher contorcionista cuja personalidade é,
também ela, toda tortuosa (Julie Ferrier, de “O Que As Mulheres Querem”); o
rapaz com aptidão para escrita (Omar Sy, de “Intocáveis”); a jovem hábil com números
(Marie-Julie Baup); e a maternal dona de casa que une toda essa trupe como uma
família (Yolande Moreau).
Ao lado de todos eles, Bazil irá empreender uma
cruzada improvável: Executará um plano mirabolante para voltar uma contra a
outra, duas grandes empresas especializadas na fabricação de armamentos (uma
delas, responsável pela mina terrestre que fulminou seu pai; a outra,
fabricante da arma que alvejou sua mente).
É dessa forma que Jeneaut
parece fazer assim uma espécie de crítica à indústria armamentista e aos seus
inevitáveis tentáculos insidiosos. Contudo, como sua crítica vem atrelada ao
fantasioso de sua marca registrada, a contundência de sua mensagem de dilui na
atmosfera onírica, na graça farsesca e na aparência de desenho animado que
subtrai do filme qualquer seriedade.
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