Bem antes de “O Diabo Veste Prada”, esta
comédia deliciosa e ágil já divertia o público amparada em observações irônicas
sobre o papel da mulher no ambiente trabalhista moderno.
Leva um tempo até que as protagonistas Judy
(Jane Fonda), Violet (Lilly Tomlin) e Doralee (Dolly Parton, cantora country
que se arriscava como atriz) –todas fabulosas –componham um trio de fato e se
unam no objetivo principal do filme.
Judy é recém-divorciada e sua inclusão no mercado
de trabalho vem com certa melancolia e assombro –ela ainda não conhece (mas,
irá conhecer) as tremendas injustiças inerentes à condição da mulher na vida
profissional.
Já, Violet é nisso uma veterana. Há doze anos
ela engole sapos diariamente enquanto aguarda com paciência uma promoção que
fará seu cargo valer a pena.
Doralee, por sua vez, estaria até em situação
satisfatória não fosse o estranho fato –completamente inexplicável para ela –de
todas as colegas de escritório lhe olharem pelas costas, crentes de que ela é amante
do patrão.
Para todas elas –e para praticamente todos no
andar em que trabalham –seus aborrecimentos profissionais veem de um único
indivíduo: O arrogante, egoísta e dissimulado chefe de seu departamento,
Franklin Hart (Dabney Coleman, de “Tootsie”, “Os Heróis Não Têm Idade” e “Sem
Jeito Para Morrer”).
Quando finalmente se tornam amigas, as três
compartilham a mesma vontade de dar cabo em grande estilo do intolerável patrão:
Judy se vê caçando-o dentro do escritório (!), com direito a tiros de espingarda
e tudo; Doralee quer laçá-lo e amarrá-lo à moda do Texas; enquanto que Violet –num
delírio que envolve até mesmo desenhos animados mesclados aos atores, como “Uma Cilada Para Roger Rabbit” –gostaria de surpreende-lo com uma poção especial no
café que ele, ignorando a dignidade do cargo dela, lhe pede todos os dias.
Pois eis que a sua maneira, algo maniqueísta, o
filme escrito e dirigido pelo falecido Colin Higgins, irá proporcionar a
realização indireta de cada um desses sonhos: Numa distração favorecida pela
indignação, Violet troca, sem querer, o açúcar do café por veneno para rato
(!), e acredita que foi isso que despachou Hart para o hospital. Não foi: Antes
de tomar um gole, ele caiu da cadeira e bateu com a cabeça (!).
No hospital, ela, Judy e Doralee armam uma
confusão tremenda quando têm a ideia de encobrir o que acreditam ser um crime,
roubando o cadáver –que, na verdade, é um cadáver de uma testemunha da polícia,
e não Hart!
Elas resolvem um problema, mas arrumam outro,
quando Hart toma conhecimento de todo esse mal-entendido, obrigando Doralee, ao
fim do expediente, a amarrá-lo em sua sala (!), e logo mais, Judy, a detê-lo
com um tiro quase fulminante (!).
Quando as três decidem deixa-lo preso em uma
casa até bolarem um plano para tira-lo de cena sem que comprometa suas vidas, o
filme o Higgins começa a perder consideravelmente seu fôlego e seu ritmo –que,
em sua primeira parte, ele ostentou com vibração e fulgor.
O desfecho, embora satisfatório e simpático,
não consegue escapar de soar forçado e sem muito nexo ao depositar a resolução
das principais questões da trama no personagem interpretado pelo veterano
Sterling Hayden, parecendo providencial demais –aparenta nem ser o mesmo
roteiro perspicaz e astucioso com o qual o filme começou.
Se há, porém, uma qualidade
que se mantém intocável e cintilante do início ao fim de “Como Eliminar Seu
Chefe”, é o carisma e o timing cômico impecável de seu maravilhoso trio de
protagonistas. Juntas –e exibindo cada uma um estilo sensacional e específico –Jane
Fonda, Lilly Tomlin e Dolly Parton carregam o filme nas costas e elevam o nível
mediano de sua comédia.
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