O cinema norte-americano continua a espernear
na tentativa de resgatar a mesma química que o antológico filme de John
McTiernam tinha, em sua incomum mistura de ação descerebrada oitentista com
ficção científica de primeira qualidade.
E após dois esforços válidos, porém,
insuficientes –a continuação “O Predador 2” e uma espécie de rebbot,
“Predadores” (o crossover “Alien X Predador” é tão ruim que não conta) –eles
recrutaram o diretor e roteirista Shane Black (que participava do primeiro
“Predador”, mas exclusivamente como ator) para a tarefa.
O estilo característico de Black, como era de
se presumir já impõe, de pronto, uma diferenciação instantânea entre este novo
“Predador” e os filmes anteriores: Black gosta de escrever diálogo afiados e
sarcásticos, e construir personagens cheios de ironia, logo, suas narrativas
contemplam a interação entre eles, como é visto em “Máquina Mortífera”.
“O Predador” –ao menos o original, aquele que
todos os que vieram depois tentaram imitar –não se ampara nisso; é um suspense
crescente, onde o mistério em torno de seu mirabolante protagonista é um achado
da equipe técnica com o qual o filme presenteia o expectador após uma sucessão
envolvente e inquietante de ação e perseguição.
O novo filme já joga algumas considerações por
terra em seu início (como o suspense e a sugestão) escancarando o alienígena na
cena inicial, quando uma nave cai praticamente em cima do herói, o atirador de
elite McKenna (Boyd Holbrook, de "Logan", pouco adequado como protagonista) tornando-o uma
testemunha em potencial da existência da criatura.
A partir daí algumas linhas narrativas meio
caóticas se desdobram: Acompanhamos McKenna que, algo foragido, envia artefatos
do Predador pelo correio (!) para o filho Rory (Jacob Tremblay) antes de ser
capturado pelo exército, e colocado num comboio junto de vários outros soldados
surtados (os personagens sarcásticos dos quais Shane Black tanto gosta); também
vemos o próprio Predador aprisionado por militares interessados no aparato
alienígena, liderados por um agente governamental descolado, mas perverso
(Sterling K. Brown); junto deles, é chamada a bióloga Dra. Bracket (Olivia
Munn).
Quando um novo Predador –maior, mais forte,
mais evoluído e ainda mais impiedoso –aparece na Terra a fim de limpar todas as
evidências da chegada do Predador anterior, o diretor Black põe todas essas
peças para se movimentar; algumas delas, num frenesi tamanho que sequer ele
próprio consegue controlar ou organizar.
No humor, nas características gerais de seus
personagens masculinos (e até nos femininos, visto que a Dra. Bracket guarda
traços não muito bem-sucedidos da Tenente Ripley de “Aliens-O Resgate”), Black
quer porque quer remeter à obras que fizeram a alegria dos expectadores
comerciais da década de 1980 –mas, apenas suas intenções são perceptíveis, não
a conquista delas.
Do modo como está, este
“”Predador” quer evocar certo cinema dos anos 1980, sim, entretanto, na
percepção de Shane Black e seu co-escritor Fred Dekker (que juntos também
conceberam o oitentista “Deu A Louca Nos Monstros”), esse cinema corresponde à
junção indissociável de piadinhas e ação ininterrupta, além de uma premissa que
carrega nos expedientes de ficção científica para encher o expectador de
informações acerca dos tais Predadores (este é um dos filmes mais reveladores
sobre a estranha espécie de alienígenas caçadores) ignorando o fato de que era
a nebulosa ausência de informações sobre tal antagonista que o tornava
intrigante.
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