terça-feira, 5 de março de 2019

Shakma - Fúria Assassina

Lançado bem no início dos anos 1990, o filme B “Shakma” ainda bebia da fonte inspiradora que norteava muitas das produções da década anterior, o que faz dele um produto vibrante em sua banalidade, notável na maneira com que transforma uma premissa rasa, mirabolante e desavergonhada num pretexto para todo um longa-metragem de terror, e um desses autênticos ‘prazeres culpados’ onde consumimos com relativa satisfação um trabalho consciente da bobagem que é.
Tudo se passa num único cenário, um edifício de aulas de medicina, fechado numa sexta-feira à noite. O lugar é palco para uma espécie de jogo de RPG: Vários alunos se reúnem para encontrar ‘tesouros’ plantados nos andares pelo ‘mestre’, e o vencedor deve chegar ao ‘tesouro principal’ que seria algo envolvendo uma tal princesa, mas isso é o de menos!
O que realmente importa é que esses incautos desavisados, que não têm outra coisa para fazer numa sexta-feira à noite à não ser disputar um jogo de ‘caça ao tesouro’ uns com os outros, irão se tornar as vítimas, no melhor estilo slasher, da grande estrela do filme: O babuíno insanamente psicótico denominado Shakma!
Numa explicação arrastada e burocrática, descobrimos que Shakma foi submetido à uma cirurgia experimental horas antes, visando a inibição dos instintos selvagens que um animal como esse tem através da injeção de uma fórmula direto em seu cérebro.
Administrada pelo aparentemente incompetente Dr. Sorenson (Roddy McDowel, de “A Hora do Espanto”), que é também o ‘mestre’ do RPG disputado mais à noite, a experiência dá inversamente errado: Ao invés de inibir sua violência, a fórmula desperta ainda mais instintos homicidas em Shakma, tornando-o potencialmente perigoso.
O rapaz encarregado de seu sacrifício, Sam (Christopher Atkins, de “A Lagoa Azul”), também o protagonista do filme, resolve sedar Shakma ao invés de mata-lo –seu apego ao animal não permite.
É por conta disso que, ao despertar enquanto o RPG está em curso (com sua meia-dúzia de participantes todos procurando solitariamente pistas pelos andares do prédio), Shakma transformará o filme, dirigido por Tom Logan e Hugh Parks, num autêntico eco-terror, aquelas produções trash que seguiam sempre a mesma tendência de mostrar os animais ou a natureza se voltando contra o ser humano.
Como produção cinematográfica, “Shakma” tinha tudo para ser banal –e ele o é, em inúmeros momentos, seja no início narrativamente desleixado ou na parte final, quando sofre um tremendo déficit de ritmo e atmosfera –contudo, sua condução envolvente soube alternar, na maior parte do tempo as duas facetas da premissa que de fato seduzem seu público alvo: O suspense em relação aos desdobramentos que resultam na próxima vítima do babuíno (sempre que um personagem murmura que vai ao 6° andar ocorre um calafrio!); e a carnificina que se espera de um filme com tal proposta –aspecto no qual “Shakma” não nega fogo!
Se há um grande problema em “Shakma” –além de seu ritmo oscilante que no começo e no final se torna enfadonho –é o fato de sugerir, durante grande parte da narrativa, o protagonismo da personagem Tracy (cuja intérprete, a bela Amanda Wyss, é mais carismática e mais interessante que o insosso protagonista) e, pouco antes de seu terço final, descarta-la de maneira tão banal e relapsa; a partir daí o personagem com mais empatia que resta ao expectador é o próprio Shakma (!).
Precário, cheio de defeitos e aparentando certa ignorância das próprias qualidades, “Shakma” divide opiniões até hoje entre aqueles que o apreciam e aqueles que o consideram uma porcaria. Seus apreciadores são particularmente alimentados pela nostalgia de tê-lo descoberto em meio à tantas produções B que pipocaram nas tardes da TV nos anos 1990.

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