segunda-feira, 15 de abril de 2019

Air America - Loucos Pelo Perigo

Embora haja um destaque absurdo para a presença de Mel Gibson, o verdadeiro protagonista deste filme é um jovem e promissor Robert Downey Jr. –é um daqueles casos em que o cinema hollywoodiano emprega uma série de circunstâncias e de talentos que deram certo em outros filmes, para urgir sua própria pérola; no entanto, a genialidade é um rompante que não se expressa sem espontaneidade.
Neste caso, além do carisma amplamente aproveitado de Mel Gibson e do talento absolutamente insuspeito de Robert Downey Jr. (dois elementos que funcionam a contento), a produção traz a direção de Roger Spottiswoode que demonstrou perícia e afiada narrativa em obras comerciais sobre contextos sócio-políticos históricos específicos em seu ótimo “Sob Fogo Cerrado” –“Air America” é, pois, uma tentativa de reaproveitar tudo isso num só caldeirão e dali extrair a mais saborosa mistura.
Piloto de helicóptero e radialista em Los Angeles, Billy Covington (Downey Jr.) perde o emprego devido ao seu temperamento inconstante.
Sua habilidade acaba sendo útil aos interesses da empresa aérea Air America, através da qual os EUA intervêm oficialmente no Laos, ainda no início da Guerra do Vietnam –essa presença americana, vale lembrar, era veementemente negada em público pelo presidente Nixon; o que confere ao roteiro do filme (baseado em livro de Christopher Robbins) uma pertinente (ainda que tardia) chacota com a política norte-americana.
Aliadas às tirânicas autoridades regionais vietnamitas, fornecedores de tóxicos e de armas, essas empresas aéreas organizam um esquema de distribuição amparado na habilidade quase intrépida de pilotos como Covington e o veterano e safo Gene Ryack (Mel Gibson).
Os dois se tornam grandes amigos e companheiros tentando salvar a própria pele e valer-se de muito jogo de cintura para aproveitar o imusitado negócio e com ele fazer dinheiro.
Ao tentar agregar um pouco de tudo (comédia, drama, romance, filme de guerra e de denúncia política), “Air America” se dissipa naquilo que se propõe; suas cenas de ação são encaixadas sem inteligibilidade, e seus personagens pairam pelas situações dispostas no roteiro sem uma função narrativa mais elaborada.
O resultado de tudo isso é uma obra que não demora a descobrir-se enfadonha. O que segura seu interesse por mais tempo que o devido é o descontraído pique da dupla Downey Jr./Gibson.

Nenhum comentário:

Postar um comentário