Costuma-se dizer que a história por trás de
alguns filmes é tão turbulenta e interessante quanto o próprio filme em
questão.
É essa máxima que vem nortear esta produção que
coloca a jovem, bela e talentosa Amanda Seyfried como a garota que, nos anos
1970, protagonizou para o bem e para o mal o filme pornográfico que rompeu pela
primeira vez a restrição do circuito específico para essas obras, virando um
verdadeiro sucesso, “Garganta Profunda”.
É com ironia que descobrimos a quão pudica é
Linda Boreman (Amanda), sobretudo, em comparação com sua melhor atrevida e
ousada amiga Patsy (Juno Temple).
Crescida numa família rigorosa e áspera (seus
pais são vividos por Sharon Stone e Robert Patrick), Linda ainda teve o
infortúnio de engravidar com vinte anos –a criança foi entregue à adoção. O quê
levou seus pais a educarem-na com rédea curta.
Tão curta que ela se sentia sufocada.
Quando o galante Chuck Traynor (Peter
Sarsgaard) surge em sua vida, portanto, ele não deixa de aparentar ser o
príncipe encantado que a salvará daquela prisão. No entanto, Chuck tem lá seus
demônios. Enquanto estão juntos, ele deixa Linda (agora, Linda Traynor)
compreender sua opinião algo maleável sobre a prostituição –para ele, não há
problemas em suas funcionárias fazerem programas com seus clientes –além de
outros assuntos mais escusos.
Com a corda no pescoço de tantas dívidas, ele
gradativamente convence Linda –que tinha lá seus sonhos para com a vida
artística –a fazer um filme. Logo fica claro, porém, que esse filme não é
convencional; trata-se de um pornô.
Do modo como a narrativa se apresenta, nem é
tanto Linda quem se assombra com os indícios do que terá de fazer, é o próprio
expectador: Para a biografia que se assume, ele é um pouco nebuloso na questão
do quanto Linda sabia sobre a natureza do projeto de “Garganta Profunda” –e o
roteiro ainda usa um artifício para, mais tarde, regressar algumas cenas, e
mostrar que Chuck prostituía Linda, aliciando-a com violência e imposições
brutais.
Com o sucesso de “Garganta Profunda” –a famosa
obra pornô sobre uma garota que tem o clitóris localizado na garganta (!), pretexto
que enfileira assim uma sucessão de cenas de sexo oral a cargo de Linda (então,
batizada com o sobrenome Lovelace, o mesmo da personagem) –ela se torna assim
uma espécie de ícone, um símbolo sexual a representar a ponte entre a então
obscura indústria pornográfica e a produção hollywoodiana; significativa, nesse
sentido, é a participação de James Franco vivendo ninguém menos que Hugh
Hefner, o dono da Playboy.
Mas, a fachada de glamour e êxito esconde um
matrimônio de abuso: Disposto a transformar a própria esposa numa espécie de
marca que pode explorar até o último centavo, Chuck submete Linda à todo tipo
de submissão, desde o uso indevido de sua imagem para produtos de sex-shop à
orgias programas com dezenas de clientes.
Ela custa a livrar-se dessa influência
perniciosa de Chuck e abandonar esse meio para então reinventar-se, desta vez
casada e com o sobrenome Marchiano, como escritora de um livro onde expõe todas
as circunstâncias que a levaram a estrelar “Garganta Profunda”, bem como o
casamento tóxico que viveu com Chuck –livro este que serve de inspiração ao
filme dirigido por Rob Epstein e Jeffrey Friedman com uma indecisão quase
bipolar: Seu trabalho flutua entre a intenção de expor despojadamente os
elementos do universo pornô (como Milos Forman o fez em “O Povo Contra Larry
Flint”) e o zelo ocasional e condescendente para com sua protagonista
retratada.
Com isso perde muito da
ousadia que se poderia esperar de um projeto assim.
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