É de uma coragem e um atrevimento incomum, a
abordagem que o diretor Nagisa Oshima presta neste seu filme, colocando no
centro da questão o homossexualismo que existia entre os samurais –guerreiros
que, vistos nos filmes que se tornaram habituais, eram vistos como bravos,
honrados e heterossexuais acima de tudo.
Não era bem assim, e acaba sendo até meio fácil
concluir o porque: Num ambiente predominantemente masculino desde a
antiguidade, as relações entre homens encontram suas mais aprofundadas
variações, por assim dizer, vide os guerreiros gregos e romanos.
Na trama que se inicia por volta do ano de
1865, a milícia imperial de samurais recebe dois novos e promissores espadachins,
o andrógino e belo Kano (Ryuei Matsuda) e o humilde e calejado Tashiro
(Tadanobu Asano, de “Thor” e “Ichi-O Assassino”). Ambos extremamente hábeis no
manejo com a espada –com uma ligeira superioridade de Kano percebido pelos
oficiais superiores Toshi Hijikata (o sensacional Takeshi Kitano) e Isami Kondô
(Yoichi Sai).
“Tabu” não se afasta nem um pouco do conceito e
do tema que Nagisa Oshima trabalhou em “Furyo-Em Nome da Honra”, muito pelo
contrário, pode ser visto quase como um reaproveitamento da mesma trama, com o
personagem Kano e sua androginia, exercendo uma atração e fascínio que
desestabiliza muitas das dinâmicas até então harmoniosas naquele ambiente
exclusivamente masculino, exatamente como o Coronel Celiers vivido por David
Bowie o fazia no campo de concentração.
Há uma atração poderosa entre Kano e Tashiro
que, em sua elegância, o diretor Oshima prefere não explorar em termos visuais
–tudo fica magnificamente subentendido. Além dele, mais alguns samurais se
interessam por Kano; outros consideram tal tendência uma perversão deplorável.
Um dos amantes de Kano aparece morto. Por uma
lâmina de espada que indica ser obra de um dos próprios samurais da milícia.
Teria sido um ato de um de seus amantes movido pelo
ciúme (o que transforma Tashiro assim no principal suspeito)? Ou um crime de um
dos desgostosos com esse comportamento?
A missão de Toshi é agora elucidar esse
mistério e punir o culpado.
O trabalho de Nagisa Oshima
(surpreendentemente implícito e contido para o realizador que entregou “O
Império dos Sentidos”) não é um filme de samurais no sentido popular do termo
–lá estão os figurinos, a ambientação e as características visuais típicas,
assim como as cenas de luta, mas tudo é conduzido com uma abstração poderosa
que enfatiza menos a adrenalina dos combates e muito mais seu teor afetivo:
quem está lutando, porque está lutando e quais os sentimentos ambíguos que isso
acarreta –estas são as questões que mais interessam ao diretor.
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