Prova de que James Ellroy não é um autor fácil
de ser transposto para os meandros narrativos do cinema é o brilhante “Los Angeles-Cidade Proibida”, do diretor Curtis Hanson: Tão mais brilhante ele é
pela maneira com que encontra, numa estrutura cinematográfica, para agregar as
muitas ponderações que convergem na trama policial lá concretizada.
Nesta nova adaptação de um romance de James
Ellroy se podia pressentir o conceito bastante promissor ao unir um escritor de
hábeis narrativas criminais e um diretor especializado em obras tensas e
violentas, capazes de tirar o fôlego da plateia e que, não obstante os anos de
experiência acalentados, conseguiu se manter relativamente autoral. E, de fato,
fiel à pecha de brilhante artesão que sempre o acompanhou, o diretor De Palma
reforça elementos, neste film noir contemporâneo, que fazem e fizeram dele um
dos grandes estetas do suspense.
Dois policiais (Josh Hartnett e Aaron Eckhart),
antigos adversários de pugilismo (apropriadamente apelidados então de ‘Mr. Ice’
e ‘Mr. Fire’) e agora parceiros, são incumbidos de um caso que chocou a Los
Angeles dos anos 1920 (e que é inteiramente inspirado num caso real que abalou
a crônica policial daquela época): O macabro e brutal assassinato da jovem
aspirante a atriz Elizabeth Short (mostrada somente num filme dentro do filme,
e vivida pela atriz Mia Kirshner).
Um deles torna-se obcecado em resolver o crime,
enquanto o outro pouco a pouco busca conforto nos braços da esposa do parceiro
(a belíssima Scarlett Johansonn). Há outras figuras enigmáticas que vão
surgindo, todas ligadas a uma complexa teia de relacionamentos e mentiras que
levam a elucidação do crime.
Há um esforço, louvável da parte de De Palma,
em capturar a verve abrangente do universo noir que James Ellroy conseguia
discorrer em seus textos, essa preocupação com suas múltiplas camadas de narrativas
e pontos de vista, e o olhar sobre o comportamento humano ante a decadência
moral, inerente à De Palma, fazem toda a diferença em seu filme: O tornam
desigual, para não dizer até singular.
Contudo, De Palma tropeça nos mesmos elementos
que já se presume que irão comprometê-lo: Na pretensão de abarcar o monumento
de informações que constituía o livro, “Dália Negra”, o filme, transforma sua
trama principal –ou aquela que isso supostamente deveria ser –numa vertente
entre tantas outras que compõe o turbilhão que se vê aqui. A busca pelo
assassino, e a investigação subsequente (bem como a obsessão errônea de um dos
detetives acerca dela) transcorre ao lado do caso extraconjugal envolvendo a
personagem de Scarlett, da relação ambígua dos investigadores aliados,
ironicamente rivais na ocupação anterior; do quebra-cabeça envolvendo a sórdida
trajetória de Elizabeth Short; e de tantas outras sub-tramas que se somam, numa
pluralidade que termina gritando mais alto que a trama principal.
Ao fim, quando pontas soltas dispersas no
roteiro são habilmente interligadas num belo trabalho de elucidação, sobram
muito poucos expectadores capazes de rememorar com precisão os indícios
deixados pouco antes, para que se possa considerar o trabalho de De Palma no
mesmo nível de outros que ele foi capaz de engendrar.
Como todo bom De Palma,
este é envolvente, sensual e estiloso, porém, a personalidade excessivamente
loquaz de seu autor James Ellroy o torna também disperso em sua vasta gama de
informações.
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