As coisas caminhavam de forma irregular para o
cinema brasileiro no início da década de 1990. A produção áudio-visual havia
sofrido um duro golpe com a extinção da Embrafilme, produtora que viabilizava a
totalidade de projetos cinematográficos autorais de então.
Dirigido por José Joffily, “A Maldição de
Sanpaku” teve o início de sua pré-produção atrelada à Embrafilme, mas ganhou
continuidade e foi concluído (e depois distribuído) pela empresa carioca
RioFilmes.
Nos moldes de “A Dama do Cine Shanghai”, este
“A Maldição de Sanpaku” combina a ambientação brasileira ao gênero noir e
vislumbra a aura de originalidade e possível charme distinto que pode surgir da
mescla do cinema mundano e promíscuo feito no Brasil (a pornochanchada ainda
era uma lembrança recente) com as narrativas cheias de suspense, intrigas e
traições que caracterizavam o sub-gênero.
Tudo começa com Gafanhoto (o ótimo Roberto
Bomtempo), contrabandista a serviço do mafioso Velho (Sergio Britto) operando
na linha Miami/São Paulo. Gafanhoto conta com frequência com a cumplicidade da
sedutora comissária de bordo Cris (Patricia Pillar, vivendo uma femme fatale
que espelha a norte-americana Sharon Stone, de “Instinto Selvagem”, lançado
naquele mesmo ano). Portanto, Gafanhoto sequer pestaneja em envolve-la quando
decide tapear o Velho ao substituir uma pedra preciosa avaliada em 200 mil
dólares por outra, falsificada.
O golpe de Gafanhoto e Cris poderia acabar aí,
mas, na fuga que se segue, eles encontram Poeta (Felipe Camargo), amigo de
infância de Gafanhoto, e refugiam-se na sua casa enquanto esperam a insana
procura de Velho por eles esfriar.
Entretanto, tal e qual “O Tesouro de Sierra Madre”, de John Huston (e referências cinematográficas, sobretudo,
norte-americanas são contumazes aqui) a ganância e a ambição começam a intoxicar
a relação desses três protagonistas convertendo a inicial aliança num triângulo
amoroso de imprevisível desequilíbrio.
Pela própria maneira como se originou como
projeto e pelas condições de produção –um esforço cooperativista que uniu o
diretor, os artistas e os técnicos presentes –“A Maldição de Sanpaku” foi uma
das primeiras realizações brasileiras que obedeciam o ‘sistema de guerrilha’
que, ao longo de quase toda a década de 1990 foi a única forma de continuar
fazendo cinema no Brasil, esforço que culminou na Retomada.
Exatamente por isso, o
trabalho de José Joffily tem passagens quase mambembes e uma problemática
incompreensão em sua narrativa sobre como fazer o suspense funcionar na maior
parte do tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário