quinta-feira, 18 de julho de 2019

Na Mira do Atirador

Há uma justificativa plena para o título original, “The Wall”: Trata-se do cenário básico durante o qual todo este árido suspense de guerra irá se passar.
Diretor de “A Identidade Bourne”, o primeiro filme da série, Doug Liman nunca chegou a usufruir do reconhecimento de público e, sobretudo, de crítica experimentado por Paul Greengrass –diretor, por sua vez, das sequências, “A Supremacia Bourne” e “O Ultimato Bourne”.
Em comum, os dois diretores sempre tiveram uma disposição para retratar as condições sócio-políticas mundiais num prisma comercial de arrojadas obras de ação. Doug Liman, porém, diversificava a ponto de alguns de seus detratores duvidarem se ele tinha um estilo de fato ou se navegava a esmo em meio à gêneros que lhe caiam no colo.
Em “Na Mira do Atirador”, ele se mostra obcecado com realismo, evocando em seu filme uma situação-limite, não raro, centralizada num só personagem, que remete à “127 Horas”, de Danny Boyle, e “Enterrado Vivo”, de Rodrigo Garcia.
Há também ecos de “Guerra Ao Terror”, de Kathryn Bigelow, visto que esta obra também se ambienta na incursão norte-americana no Oriente Médio –as condições sócio-políticas mencionadas acima.
Isaac (Aaron Taylor Johnson) e Matthews (John Cena) são dois franco-atiradores do Exército Norte-Americano. Eles estão inspecionando, à cautelosa distância, o palco de uma chacina: Vários soldados foram mortos à tiros em céu aberto.
Por horas a fio eles observam o cenário. Vencido pela impaciência, Matthews decide averiguar mais de perto.
Será este o seu erro.
Alvejado, ele é seguido de Isaac que vem em seu socorro –e toma, também ele, um tiro; no joelho. Mal podendo se arrastar, com o companheiro agonizando em campo aberto, o rádio quase inoperante e sem maiores palpites de qual pode ser a localização do atirador, Isaac rasteja até um muro caindo aos pedaços –restos mortais de uma construção que antes fora uma escola.
E ali ele espera.
Espera por um possível erro de seu adversário (esse erro não vem, o atirador se revela formidável); por uma improvável chance de resgate (tais chances estão contra ele, além disso, o único com quem consegue comunicação via rádio é com o próprio atirador); ou por algum golpe de sorte que lhe permita escapar daquela enrascada (momentos que até surgem, aqui ou ali, explorados em minúcias espartanas pelo roteiro de Dwain Worrell, mas cujos desenlaces desafortunados só acabam enfatizando o drama).
Muito mais psicológico do que eletrizante –embora, por isso mesmo, sua tensão atinja níveis estratosféricos –“Na Mira do Atirador” revela a competência do ator Aaron Taylor Johnson e a versatilidade do diretor Doug Liman, os dois pilares sólidos sob os quais este contundente suspense se constrói.

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