Uma das mais fulgurantes estrelas da China
desde sua revelação radiante em “O Tigre e O Dragão”, a atriz Zhang ZiYi ganha
aqui um projeto adequado até demais ao seu estrelato: Um drama pretensamente
emotivo que abraça três gerações de mulheres em Xangai, no qual ela interpreta
todas as protagonistas, saltando de uma personagem para a outra a medida que as
tramas se sucedem com a devida passagem do tempo.
Não somente ela: A outrora belíssima Joan Chen
(de “O Último Imperador”) também o faz interpretando sua mãe.
Assim começamos na década de 1930, quando a
primeira personagem de Zhang ZiYi, a sonhadora Mo, vive à turras com sua mãe
(Joan) exageradamente implicante devido às orientações de uma educação que, com
os novos tempos, começava a ficar antiquada.
E nem tampouco Mo era o tipo de garota que se
adequava no papel de jovem submissa: Ela vai atrás de seu sonho de virar atriz,
o que não tarda a conseguir, em parte por sua beleza delicada –enaltecida
constantemente pelos enquadramentos, e pelos efeitos de cabelo e maquiagem.
Prestes a conquistar o sucesso, porém, Mo sofre
um golpe inesperado do destino: Ao mesmo tempo em que engravida do produtor que
lhe abriu as portas (e que logo deu um desfalque no estúdio fugindo com o
dinheiro), ela testemunha as primeiras e violentas revoluções da China
(provavelmente a Guerra Sino-Japonesa), tornando inexistente a fama que obteve.
E embora esse pano de fundo histórico seja
sempre mantido no filme, ele nunca é aprofundado (jamais são definidos datas e
acontecimentos com exatidão, por exemplo), deixando a indigesta impressão que a
trama se ambienta neles mais por modismo folhetinesco do que por um objetivo
narrativo válido de fato.
Mo dá à luz a uma menina que passa a chamar de
Lilli após voltar a morar, sem muitas alternativas, com a mãe.
Os anos se passam e, cerca de duas décadas
depois, é Joan Chen quem interpreta Mo e Zhang ZiYi quem agora vive Lilli.
No fim dos anos 1950 , início dos anos 60, a
juventude de Xangai testemunha a força ideológica do governo vermelho de Mao –e
vem a ser numa dessas reuniões partidárias que Lilli conhece Zou Jie (Lu Yi),
rapaz por quem vem a se apaixonar.
Diferente de Mo, porém, Lilli é uma jovem
rigorosa, de disposição severa –é bastante interessante, portanto, observar
Zhang ZiYi e Joan Chen alternarem essas personalidades em suas atuações.
Ainda que se amem, Lilli e Zou não podem ter
filhos. Eles decidem, com isso, adotar uma criança o que os leva a se tornarem
pais da pequena Flor.
Entretanto, a medida que cresce a relação
genuinamente paternal entre Zou e Flor começa a despertar certa neurose em
Lilli, o que a leva a confrontar Zou com recriminações infundadas, dizendo que
irá denunciá-lo ao partido.
E, na Xangai de então, tal alegação é alarmante
o suficiente para que ele, apavorado, cometa o suicídio. Lilli, mais tarde,
devorada pela culpa, desaparece no mundo.
Treze anos depois, agora no fim da década de
1970, Flor está por volta de seus vinte e tantos anos (e vivida, de novo, por
Zhang ZiYi), criada com carinho pela avó Mo (ainda Joan Chen) quando conhece
Xia Du (Liu Ye), um jovem universitário que irá cursar longe dela, colocando à
prova o seu amor.
A despeito dessa pretensão
quase épica em abranger não somente a vida das três gerações de mulheres, como
também aparentemente, os acontecimentos mais importantes da China (cujos
desdobramentos mais minuciosos e controversos foram completamente deletados da narrativa num ato discutível e indulgente), “Três Gerações, Um Destino” termina
sendo apenas um veículo visualmente espalhafatoso para a talentosa e bela
Zhang ZiYi, falho até mesmo nesse intento: Tanto ela quando Joan Chen (atrizes
comprovadamente capazes) estão tenebrosamente mal dirigidas por Hou Yong,
embaladas numa paleta visual excessivamente limpa e irreal para um filme de
abordagem histórica, e numa narrativa tão transparente em seus recursos
novelescos que chega realmente a lembrar um folhetim mexicano ou uma novela
global.
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