quarta-feira, 17 de julho de 2019

Dumbo

Um dos responsáveis pela inauguração do filão de adaptações em live-action dos clássicos animados da Disney, com “Alice No País das Maravilhas”, o diretor Tim Burton retorna ao, vamos dizer, sub-gênero que ajudou a criar com esta versão com atores de carne e osso de “Dumbo”.
Ao contrário de produções que tentaram revisionar obras consagradas mas ainda relativamente contemporrâneas, como “A Bela e A Fera” e os posteriores “Aladdin” e “O Rei Leão”, Burton sabiamente optou por revisitar um trabalho do passado –como também o fez Jon Favreau em “Mogli-O Menino Lobo", talvez, o melhor filme dessa categoria até então –beneficiando sua realização não somente com a repaginação técnica da trama e de suas sequências assim reproduzidas e resgatadas, mas agregando valores culturais que não estavam em voga na época da animação original –datada de 1941 –como, por exemplo, o politicamente correto: O “Dumbo” original é notório, entre outras coisas, por uma representação de cunho desprezivelmente racista observada na caracterização de um grupo de corvos.
Tal e qual em ambos os casos (desenho e filme), Dumbo é o filhote de elefante completamente rejeitado pelo dono do Circo Medici (Danny De Vito) no qual nasceu e ao qual pertence. O motivo: O filhote tem imensas orelhas nas quais vive tropeçando ao caminhar.
As primeiras mudanças no filme de Burton –bastante necessárias –surgem já no núcleo de protagonistas: A animação tinha, quando muito, humanos inexpressivos e pouco relevantes à história. Aqui, é pelo olhos das duas crianças, a menina Milly (Nico Parker) e o garoto Joe (Finley Hobbins), que vemos a trajetória de Dumbo se desenvolver.
Os dois são filhos de Holt Farrier (Colin Farrell), outrora um astro do circo como cowboy e domador de cavalos, mas relegado a função de cuidador de elefantes após voltar mutilado –sem um dos braços –da Primeira Guerra Mundial.
É essa família quem adota Dumbo quando todos os outros mais, incluindo o Sr. Medici, tentam livrar-se dele e afasta-lo de sua mãe.
Entretanto, Milly e Joe descobrem uma particularidade em Dumbo: Suas grandes orelhas permitem a ele a capacidade inesperada de voar!
E eis que o filme de Burton, numa estrutura narrativa mais bem resolvida diante da fonte original, toma a deliberada decisão de começar de fato onde a animação terminava: No original, Dumbo descobria só perto do fim o dom de voar e sua transformação em estrela no circo representa assim a redenção alcançada por meio do sucesso.
Já aqui, atingir o estrelato significa, para o elefantinho, o início de suas desventuras. A fama singular de um elefante que voa atrai para perto do Sr. Medici alguém infinitamente mais ambicioso e inescrupuloso, o Sr V.A. Vandemere (Michael Keaton, minimalista em sua vilania), proprietário de um circo de última geração, luxuoso e sofisticado –quase uma espécie de versão sombria de Walt Disney. Ele enreda o Sr. Medici em suas artimanhas e inclui Dumbo em seu próprio espetáculo a fim de ve-lo num número acrobático com sua esposa, a malabarista Colette (a francesa Eva Green, presente nos últimos três filmes de Burton).
Para garantir que tal achado não escape de suas garras, Vandemere pretende afastar Dumbo de sua mãe definitivamente, nem que para isso tenha de sacrificar o animal.
É pois o reencontro de Dumbo com sua mãe, e posteriormente a fuga dos dois para um lugar livre e natural, o objetivo enquanto final feliz da narrativa, algo que não era sequer esboçado na animação de 1941, mas era visto como imprescindível neste filme pelo público ainda durante sua pré-produção; e o diretor Burton, ao lado do roteirista Ehren Kruger (de “Transformers 2-A Vingança dos Derrotados”) foram de encontro à essas expectativas ecológicas.
Um trabalho de encher os olhos em função dos vastos efeitos visuais –aspecto no qual as adaptações em live-action dos clássicos da Disney parecem encontrar seu ponto forte e principal –e embevecido de decisões narrativas que recolocam a trama no elefantinho de orelhas grandes em um novo e certamente mais válido contexto para as novas gerações, “Dumbo”, no conformismo de exibir seu vistoso aparato técnico, é uma produção onde Tim Burton faz aquilo que se espera dele em termos estéticos –e isso já pode ser visto como êxito –embora falhe ao atingir picos de intensidade e de genialidade e nem tampouco alcance o patamar de reconhecimento artístico à época conquistado pelas animações que a Disney agora quer reformular.

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