terça-feira, 2 de julho de 2019

Sol Nascente

Sob muitos aspectos, o estrelato do qual Sean Connery usufruía nos anos 1990 define muito o tipo de filme que “Sol Nascente” é.
Certamente, trata-se de uma produção caprichada, uma adaptação digna e empolgante de um livro de Michael Crichton (cujo “Jurassic Park” bombou nas bilheterias naquele mesmo ano) e um trabalho ao qual o diretor Philip Kaufman confere todas as características autorais às quais era associado –o erotismo algo elegante de “A Insustentável Leveza do Ser” e “Henry & June”, e a narrativa cheia de charme de “Os Eleitos” –entretanto, é a presença de Connery (inclusive como produtor) que determina o ritmo e a condução (sempre centralizando seu marrento personagem) e os rumos da trama (cujos subterfúgios soam imprevisíveis a todos, menos à ele).
Connery reserva para si o papel de John Connor (não confundir com o salvador da humanidade da saga “Exterminador do Futuro”), uma espécie de mentor que guiará o detetive Web Smith (Wesley Snipes, em ótima química com Connery) num intrincado caso de homicídio.
A vítima, uma mulher, foi morta por sufocamento durante o ato sexual sob a mesa da diretoria de uma empresa japonesa durante a noite em uma festa de comemoração a um importante negócio. É necessário diplomacia da parte dos policiais americanos para contornar os inflexíveis códigos de conduta japoneses, sobretudo, porque a principal suspeita recai sobre um playboy nipônico o hedonista Eddie Sakamura (Cary-Hiroyuki Tagawa). E Philip Kaufman –seja na direção, seja no roteiro –incrementa ao máximo seu filme para que a cadência labiríntica de seu enredo se mostre instigante o suficiente.
É curioso, no entanto, que seu apelo mais incomum –aquele que serve para diferencia-lo de tantos outros exemplares idênticos dentro do gênero –é fonte de suas maiores ressalvas: Ao observar, como fonte de curiosidade (de exotismo, até!) a dinâmica corporativa entre japoneses e americanos, seja ele nos níveis políticos, morais, comportamentais e sexuais, o filme não evita de soar xenófobo em sua proposta e em suas motivações.
Os americanos, incluindo seus artesãos de cinema, são hábeis em mascarar a realidade com um verniz de sedutora ficção (o que este filme é com todos os seus méritos), mas deixam transparecer, de modo quase subconsciente, as facetas arrogantes de seu preconceito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário