Sob muitos aspectos, o estrelato do qual Sean
Connery usufruía nos anos 1990 define muito o tipo de filme que “Sol Nascente”
é.
Certamente, trata-se de uma produção
caprichada, uma adaptação digna e empolgante de um livro de Michael Crichton
(cujo “Jurassic Park” bombou nas bilheterias naquele mesmo ano) e um trabalho
ao qual o diretor Philip Kaufman confere todas as características autorais às
quais era associado –o erotismo algo elegante de “A Insustentável Leveza do
Ser” e “Henry & June”, e a narrativa cheia de charme de “Os Eleitos”
–entretanto, é a presença de Connery (inclusive como produtor) que determina o
ritmo e a condução (sempre centralizando seu marrento personagem) e os rumos da
trama (cujos subterfúgios soam imprevisíveis a todos, menos à ele).
Connery reserva para si o papel de John Connor
(não confundir com o salvador da humanidade da saga “Exterminador do Futuro”),
uma espécie de mentor que guiará o detetive Web Smith (Wesley Snipes, em ótima
química com Connery) num intrincado caso de homicídio.
A vítima, uma mulher, foi morta por sufocamento
durante o ato sexual sob a mesa da diretoria de uma empresa japonesa durante a
noite em uma festa de comemoração a um importante negócio. É necessário
diplomacia da parte dos policiais americanos para contornar os inflexíveis
códigos de conduta japoneses, sobretudo, porque a principal suspeita recai
sobre um playboy nipônico o hedonista Eddie Sakamura (Cary-Hiroyuki Tagawa). E
Philip Kaufman –seja na direção, seja no roteiro –incrementa ao máximo seu
filme para que a cadência labiríntica de seu enredo se mostre instigante o
suficiente.
É curioso, no entanto, que seu apelo mais
incomum –aquele que serve para diferencia-lo de tantos outros exemplares
idênticos dentro do gênero –é fonte de suas maiores ressalvas: Ao observar,
como fonte de curiosidade (de exotismo, até!) a dinâmica corporativa entre
japoneses e americanos, seja ele nos níveis políticos, morais, comportamentais
e sexuais, o filme não evita de soar xenófobo em sua proposta e em suas
motivações.
Os americanos, incluindo
seus artesãos de cinema, são hábeis em mascarar a realidade com um verniz de
sedutora ficção (o que este filme é com todos os seus méritos), mas deixam
transparecer, de modo quase subconsciente, as facetas arrogantes de seu
preconceito.
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