terça-feira, 2 de julho de 2019

Brincando Nos Campos do Senhor

Talvez o melhor trabalho de Hector Babenco, a adaptação do livro de Peter Mathiessen, realizada a quatro mãos com a inestimável contribuição do roteirista Jean-Claude Carriére (assíduo colaborador de Buñuel) encontra paralelos com “Dança Com Lobos” –desde a importância da preservação da cultura indígena até o escopo ambicioso e paisagístico –no entanto, sua repercussão infelizmente foi diametralmente oposta: Apesar da calorosa recepção da crítica, “Brincando Nos Campos do Senhor” amargou um retumbante fracasso de bilheteria.
O filme se inicia com o que já soa como um indicativo do apreço de Babenco enquanto contador de histórias: Uma colisão de personagens distintos no coração da selva amazônica. Dois deles são os soldados da fortuna, Wolf (Tom Waitts) e Lewis Moon (Tom Berenger), sua percepção mundana e cínica em choque com os ideais dos missionários Martin (Aidan Quinn) e Leslie (John Lithgow), casados com Hazel (Kathy Bates) e Andy (Daryl Hannah).
Ambos os casais embrenharam-se na selva a fim de levar o evangelho às tribos, alimentados por admiração mútua.
Todavia, Babenco não se detém nessa dinâmica, logo partindo para a circunstância mais fascinante de seu enredo. Desejosos de partir para a aventura seguinte, Wolf e Moon negociam o combustível de avião que necessitam com Guzman (José Dumont). Líder militar de região, ele precisa que os aventureiros encontrem um meio de expulsar a tribo de Boronai (Stênio Garcia, soberbo) do lugar em que estão: O jazigo de um veio de ouro.
Quando a necessidade da missão se choca com os propósitos da ética, Babenco resgata então a herança Cheyenne que Moon traz em seu sangue, e o mercenário deixa de lado suas escolhas duvidosas para se tornar, ele próprio, um dos índios.
Como em muitos de seus trabalhos, Babenco sedimenta aqui o caminho imprevisível entre aquilo que seus protagonistas creem ser e aquilo que, no fim das conta, eles se tornaram, saboreando cada uma das imbricações da metamorfose que observa.

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