segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Máquinas Mortais

Bom ator Hugo Weaving já deixou bem claro que ele é, mas ele poderia deixar essa cisma de interpretar sempre vilões: Está se tornando um lugar-comum em sua carreira.
Em “Máquinas Mortais” –produzido pelo mesmo Peter Jackson que o escalou como Elrond em “O Senhor dos Anéis”, um raro papel de bonzinho –ele até aparenta, em princípio, ser um dos protagonistas do bem, entretanto, não tarda para suas intenções malignas aparecerem, ainda que demore, sim, para sua motivações serem esclarecidas.
Dirigido por Christian Rivers (um dos técnicos de efeitos visuais de “King Kong”), “Máquinas Mortais” é como a própria imagem de Hugo Weaving aqui: Passa a impressão de que será algo novo e refrescante no batido cinema comercial hollywoodiano, mas termina sendo absolutamente mais do mesmo.
A trama se ambienta num futuro distópico –e como a quase totalidade destes casos ultimamente, seu material vem de uma fonte literária para jovens, o best-seller de Philip Reeve.
Nesse futuro, onde a raça humana chegou muito perto de extinguir-se com o uso indevido de armas de destruição em massa, uma nova forma de civilização, muito mais impiedosa e implacável se formou, habitando as chamadas Cidades Predadoras do Oeste.
Steampunk até a medula –como são designadas as ficções científicas onde a alta tecnologia é empregada com elementos retrô –o filme de Christian Rivers parece ser, acima de tudo, uma oportunidade para materializar em cenas de cinema (e com todo o poderio digital de efeitos visuais de última geração) as imagens descritas no livro que dão conta das imensuráveis cidades motorizadas que singram as pradarias européias capturando veículos, digamos, menores; que são, no caso, aldeias, também elas convertidas em maquinários ambulantes gigantescos.
Uma mescla do fetiche automobilístico (e também da paisagem pós-apocalíptica) de “Mad Max” com a megalomania épica das franquias adolescentes atuais.
A cidade móvel em torno da qual a história vai girar é Londres –e, com efeito, a primeira hora de filme se desbunda ao explorar com imodestas panorâmicas o funcionamento interno e externo da cidade, seus detalhes maiores e menores, enquanto elabora sua primeira cena de ação, na qual vemos Londres perseguir uma aldeia motorizada onde se encontra a misteriosa Hester Shaw (a islandesa Hera Hilmar) que desde o início percebemos ter lá os seus próprios planos.
Ela quer, na verdade, entrar na fortaleza que é Londres e obter uma chance para se aproximar e eliminar um de seus comandantes, Thaddeus Valentine (o próprio Hugo Weaving), o homem que destruiu sua vida –background da protagonista que será explicado mais tarde num inevitável flashback.
A aldeia é capturada, e Hester tem sua chance, que seria muito bem aproveitada se ela não tivesse sido frustrada pelo bem-intencionado Tom Natworthy (Robert Sheehan), o que leva ele e Hester a serem acidentalmente expelidos para fora de Londres, passando assim a singrar pelo mundo inóspito fora da proteção das cidades.
O grande problema de “Máquinas Mortais” é que, passada essa primeira cena onde o filme ostenta com pompa e circunstância a sequência de ação que prometia como seu diferencial, tudo nele decai: Sua trama se revela fraca, repetitiva e enfadonha (sabemos, desde o começo, que Hester e Tom irão se apaixonar após um implicante período de convivência e de lá, regressarão à Londres para o devido acerto de contas com o vilão Valentine assim revelado). Seus protagonistas se esforçam para exibir um carisma que não têm e uma química que não existe. E as cenas que se seguem até o final, mesmo que embaladas na pirotecnia obrigatória das grandes superproduções, não acrescentam coisa alguma ao todo ou a experiência de assisti-lo; não há um enquadramento digno de ser considerado antológico, uma guinada de roteiro merecedora de lembrança, ou alguma emoção que o faça vagamente memorável.
Vindo de uma equipe que entregou décadas atrás uma obra do quilate de “O Senhor dos Anéis” –Jackson, Fran Walsh e Philippa Boyens escreveram também este roteiro –esse resultado banal e esmaecido é, no mínimo, frustrante.

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