terça-feira, 6 de agosto de 2019

Sob O Luar da Primavera

Em meados de 1986, Prince estava com a bola toda: Dois anos antes havia estrelado “Purple Rain” que além do sucesso de público e crítica, lhe deu o Oscar de Melhor Trilha Sonora e cristalizou sua imagem de artista inovador dos anos 1980.
Beneficiando-se dessa boa maré, ele resolveu voltar a insistir no cinema, desta vez também estreando como diretor.
O filme que dessa intenção originou-se, este “Sob O Luar da Primavera”, não carrega tanto nas tintas dramáticas de “Purple Rain” preferindo um registro bem-humorado em tom galhofa, quase uma aventura romântica descontraída e inofensiva.
Prince, sem sombra de dúvidas, reservou para si o papel protagonista, Christopher Tracy, um crooner na boate de uma cidade litorânea da Europa. Filmado em preto & branco –por razões que nunca parecem de fato claras –esse detalhe confere, sobretudo em sua primeira aparição, uma semelhança com “Casablanca” logo no início.
Não há, porém, como comparar a grandeza da obra-prima de Michael Curtiz com o trabalho executado aqui: Se existe alguma boa ideia neste filme, é o fato do diretor ter nele imposto uma atmosfera de leveza, fazendo com que a obra nunca se leve muito a sério –do contrário, ele facilmente cairia em suas próprias armadilhas.
Aliado ao grande amigo Tricky (Jerome Benton), Christopher quer aproveitar a vida e se divertir com as tantas mulheres da região que lhe dão atenção –o que transforma o filme, do início ao fim, numa espécie de massagem de ego pessoal de Prince, insistente em cenas de sedução nas quais ele mesmo se dá mais atenção que às mulheres.
Já foi dito que Prince tinha aparência de odalisca e vontades de sultão: Se por um lado transparece seu narcisismo extremo, também se nota seu duvidoso gosto visual; ele usa adereços ostensivos, abusa de trejeitos afeminados e de muita maquiagem, e veste roupas espalhafatosas (mesmo para os padrões dos anos 1980!).
Ao entrar de penetra numa festa de aniversário promovida por uma família rica, Christopher conhece a aniversariante, a jovem Mary Sharon (Kristin Scott Thomas, belíssima estreando no cinema). De espírito rebelde, Mary, de início, se deixa irritar pelos estranhos sentimentos que aquele boêmio abusado lhe desperta –que logo ela, e o publico, irão concluir tratar-se de paixão.
O filme se ocupa do romance dos pombinhos de uma forma meio prolixa, meio superficial, com Prince cedendo ocasionalmente à vontade de fazer um grande videclip. Seu maior conflito até então é o que envolve Tricky, também ele apaixonado por Mary e ressentido dela ter escolhido Christopher.
Todavia, na sua obsessão por admirar a si próprio, Prince sucumbe ao clichê no ‘pai tirano que não deseja o amor para sua filha’ lá nos últimos quarenta minutos de filme, quando o personagem de Steven Berkoff, o pai de Mary, se impõe como grande vilão da trama –inclusive com subterfúgios abertamente criminosos e malignos.
Bebendo da fonte de todos os clichês românticos possíves (o que, definitivamente, não combina nada com Prince), o filme segue com sua historinha amena e leve até o final, quando uma concessão de última hora lhe reverte a previsibilidade trazendo algum drama ao desfecho.
No entanto, já é tarde demais.

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