Em meados de 1986, Prince estava com a bola
toda: Dois anos antes havia estrelado “Purple Rain” que além do sucesso de
público e crítica, lhe deu o Oscar de Melhor Trilha Sonora e cristalizou sua
imagem de artista inovador dos anos 1980.
Beneficiando-se dessa boa maré, ele resolveu
voltar a insistir no cinema, desta vez também estreando como diretor.
O filme que dessa intenção originou-se, este
“Sob O Luar da Primavera”, não carrega tanto nas tintas dramáticas de “Purple
Rain” preferindo um registro bem-humorado em tom galhofa, quase uma aventura
romântica descontraída e inofensiva.
Prince, sem sombra de dúvidas, reservou para si
o papel protagonista, Christopher Tracy, um crooner na boate de uma cidade
litorânea da Europa. Filmado em preto & branco –por razões que nunca
parecem de fato claras –esse detalhe confere, sobretudo em sua primeira
aparição, uma semelhança com “Casablanca” logo no início.
Não há, porém, como comparar a grandeza da
obra-prima de Michael Curtiz com o trabalho executado aqui: Se existe alguma
boa ideia neste filme, é o fato do diretor ter nele imposto uma atmosfera de
leveza, fazendo com que a obra nunca se leve muito a sério –do contrário, ele
facilmente cairia em suas próprias armadilhas.
Aliado ao grande amigo Tricky (Jerome Benton),
Christopher quer aproveitar a vida e se divertir com as tantas mulheres da
região que lhe dão atenção –o que transforma o filme, do início ao fim, numa
espécie de massagem de ego pessoal de Prince, insistente em cenas de sedução
nas quais ele mesmo se dá mais atenção que às mulheres.
Já foi dito que Prince tinha aparência de
odalisca e vontades de sultão: Se por um lado transparece seu narcisismo
extremo, também se nota seu duvidoso gosto visual; ele usa adereços ostensivos,
abusa de trejeitos afeminados e de muita maquiagem, e veste roupas
espalhafatosas (mesmo para os padrões dos anos 1980!).
Ao entrar de penetra numa festa de aniversário
promovida por uma família rica, Christopher conhece a aniversariante, a jovem
Mary Sharon (Kristin Scott Thomas, belíssima estreando no cinema). De espírito
rebelde, Mary, de início, se deixa irritar pelos estranhos sentimentos que aquele
boêmio abusado lhe desperta –que logo ela, e o publico, irão concluir tratar-se
de paixão.
O filme se ocupa do romance dos pombinhos de
uma forma meio prolixa, meio superficial, com Prince cedendo ocasionalmente à
vontade de fazer um grande videclip. Seu maior conflito até então é o que
envolve Tricky, também ele apaixonado por Mary e ressentido dela ter escolhido
Christopher.
Todavia, na sua obsessão por admirar a si
próprio, Prince sucumbe ao clichê no ‘pai tirano que não deseja o amor para sua
filha’ lá nos últimos quarenta minutos de filme, quando o personagem de Steven
Berkoff, o pai de Mary, se impõe como grande vilão da trama –inclusive com
subterfúgios abertamente criminosos e malignos.
Bebendo da fonte de todos os clichês românticos
possíves (o que, definitivamente, não combina nada com Prince), o filme segue
com sua historinha amena e leve até o final, quando uma concessão de última
hora lhe reverte a previsibilidade trazendo algum drama ao desfecho.
No entanto, já é tarde
demais.
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