É audaz o olhar que o diretor Michael
Winterbolton lança sobre esta obra, adaptação de um dos maiores clássicos da
literatura inglesa: O despojamento que ele busca através do registro cru não
somente segue os preceitos pontuados pelo autor Thomas Hardy, como também
parece ser uma forma de contornar a pressão e a solenidade quase inevitáveis ao
se lidar com tão consagrado material.
E Winterbolton sai-se maravilhosamente bem: Seu
filme é um trabalho poderoso, do qual é quase impossível sair indiferente.
O filho de camponês Jude Fawley (na atuação
compenetrada e contundente de Christopher Eccleston) é um autodidata desde
criança: Não lhe bastam as opções limitadas que oferecem o vilarejo rude e
rural onde nasceu. Jude quer estudar, quer aprender e, se possível,
aproximar-se dos grandes centros para elevar sua qualidade de vida. Tais
aspirações não o impediram de sucumbir à fugaz paixão por Arabella (Rachel
Griffiths), sua primeira esposa ainda na juventude.
Com o tempo, Jude parte para a cidade grande,
onde se enamora de sua própria prima Sue (a belíssima Kate Winslet, pouco antes
de “Titanic”) e um romance começa a nascer: Embora a atração e o carinho que
sente por Sue seja retribuído por ela, Jude encontra resistência da mesma em
consumar qualquer relação, em parte porque Sue era antes, também ela, envolvida
com outro homem, e parte porque envolver-se com Jude, seu próprio primo é, para
Sue, um tabu difícil de ser vencido.
O envolvimento só vem a acontecer quando
Arabella reaparece, desta vez, trazendo para Jude um filho que ele teve e não
sabia.
A possibilidade de perder Jude e o desejo
assumido, porém, suprimido por ele levam os dois a consumar sua relação –numa
cena de sexo dirigida com perícia e contundência (e já bastante exemplar da
coragem que Kate Winslet demonstraria ao longo de sua brilhante carreira).
Casados, Jude e Sue enfrentam sistematicamente
a rejeição das comunidades às quais tentam se instalar pelo fato de seu
relacionamento ser visto como incestuoso. Os objetivos tão luminosos almejados
por Jude se converteram em responsabilidades de um homem de família comum que
ele não se viu capaz de suprir com satisfação; mesmo que nos braços da mulher
que sempre amou.
Entretanto, a rusticidade
dos costumes é o menor de seus aborrecimentos; particularmente terrível é o
desfecho trágico que aguarda o casal e seus filhos, de uma carga dramática que
raros filmes do cinema moderno foram capazes de igualar.
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