sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Jude - Paixão Proibida

É audaz o olhar que o diretor Michael Winterbolton lança sobre esta obra, adaptação de um dos maiores clássicos da literatura inglesa: O despojamento que ele busca através do registro cru não somente segue os preceitos pontuados pelo autor Thomas Hardy, como também parece ser uma forma de contornar a pressão e a solenidade quase inevitáveis ao se lidar com tão consagrado material.
E Winterbolton sai-se maravilhosamente bem: Seu filme é um trabalho poderoso, do qual é quase impossível sair indiferente.
O filho de camponês Jude Fawley (na atuação compenetrada e contundente de Christopher Eccleston) é um autodidata desde criança: Não lhe bastam as opções limitadas que oferecem o vilarejo rude e rural onde nasceu. Jude quer estudar, quer aprender e, se possível, aproximar-se dos grandes centros para elevar sua qualidade de vida. Tais aspirações não o impediram de sucumbir à fugaz paixão por Arabella (Rachel Griffiths), sua primeira esposa ainda na juventude.
Com o tempo, Jude parte para a cidade grande, onde se enamora de sua própria prima Sue (a belíssima Kate Winslet, pouco antes de “Titanic”) e um romance começa a nascer: Embora a atração e o carinho que sente por Sue seja retribuído por ela, Jude encontra resistência da mesma em consumar qualquer relação, em parte porque Sue era antes, também ela, envolvida com outro homem, e parte porque envolver-se com Jude, seu próprio primo é, para Sue, um tabu difícil de ser vencido.
O envolvimento só vem a acontecer quando Arabella reaparece, desta vez, trazendo para Jude um filho que ele teve e não sabia.
A possibilidade de perder Jude e o desejo assumido, porém, suprimido por ele levam os dois a consumar sua relação –numa cena de sexo dirigida com perícia e contundência (e já bastante exemplar da coragem que Kate Winslet demonstraria ao longo de sua brilhante carreira).
Casados, Jude e Sue enfrentam sistematicamente a rejeição das comunidades às quais tentam se instalar pelo fato de seu relacionamento ser visto como incestuoso. Os objetivos tão luminosos almejados por Jude se converteram em responsabilidades de um homem de família comum que ele não se viu capaz de suprir com satisfação; mesmo que nos braços da mulher que sempre amou.
Entretanto, a rusticidade dos costumes é o menor de seus aborrecimentos; particularmente terrível é o desfecho trágico que aguarda o casal e seus filhos, de uma carga dramática que raros filmes do cinema moderno foram capazes de igualar.

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