Hoje, Keanu Reeves é um veterano que goza de
prestígio junto ao público e crítica graças a excelentes filmes comerciais no
currículo e uma reputação de caráter impecável, mas houve um tempo, em algum
momento dos anos 1980, que era um jovem ator muito promissor.
Foi na qualidade de promessa hollywoodiana que
ele estrelou “The Night Before” –ou “Uma Noite de Loucuras”, ou "Uma Noite Muito Louca" nos parcos nichos
nacionais em que ele foi conhecido –dirigido e roteirizado por Thom Eberhardt,
com nítida e apaixonada inspiração no genial “Depois de Horas”, de Martin
Scorsese.
Todavia, o próprio trabalho de Eberhadt
converteu-se, ele próprio, numa inspiração, ainda que obscura: Não obstante as
influências mais recentes e famosas (como “Cara, Cadê Meu Carro?” e “Despedida
de Solteiro Em Las Vegas”), este filme –como será bastante evidente por sua
premissa –é uma das referências incontornáveis para a trama de “Se Beber, Não Case”.
Keanu Reeves é Winston, jovem estudante que,
como todos os protagonistas adolescentes, acidentais e desafortunados nos anos
1980, padece da mediocridade perante seus pares.
Entretanto, o problema imediatamente urgente de
Winston não é esse: Ele acorda num beco sujo, e com as roupas em farrapos, sem
maiores lembranças ou informações de como foi parar lá ou do que aconteceu no
noite anterior.
Claro que pouco-a-pouco sua memória vai
retornando e, de situação em situação, ele vai reconstruindo o quebra-cabeça de
sua então nebulosa aventura –as características narrativas melhor empregadas
por Eberhardt e que respondem pelo aspecto mais eficaz do filme, presente
sobretudo na ótima primeira metade.
Winston, na verdade, experimentou o supra-sumo
da boaventurança para um jovem prestes a formar-se no colegial (mais um
elemento inerente ao cinema dos anos 1980) –ele conseguiu ir à festa de
formatura com a garota mais disputada do colégio (Lori Loughlin, de “Admiradora Secreta”) graças a uma aposta perdida por ela para suas colegas; o castigo era
aceitar o convite dele.
No entanto, as confusões e encrencas que se
seguiram –e que são elucidadas por meio de ocorrências sugeridas a medida que o
filme avança –o levaram a experimentar um pesadelo: Ele a leva, no carro
esporte do pai, para o lado errado da cidade, num subúrbio cujas roupas de gala
que vestem atrai o interesse dos moradores locais.
Não há como negar que Thom Eberhardt, se não
foi nada original ao moldar deliberadamente um pastiche juvenil de “Depois de
Horas”, ao menos, soube fazer a lição de casa e percebeu a conjunção de
pequenas sacadas que integravam a estrutura narrativa que Scorsese montou –e,
se não as recria com brilho, o faz com despretensão e euforia relativamente
contagiante.
Como é normal em muitos casos, o filme perde
vertiginosamente sua graça conforme os indícios até então incertos começam a
serem revelados; e sem o charme de seu mistério para disfarçar, o filme de
Eberhardt não consegue ocultar o amadorismo de seu roteiro e a pouca
inventividade de sua direção, restando assim somente o carisma de Keanu Reeves
para sustenta-lo.
É uma boa sustentação, diga-se:
Keanu dá um brilho empático e admirável à um personagem que, nas mãos de outro
ator, poderia soar apenas aquilo que o roteiro tentar fazer dele. Um boboca.
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