quinta-feira, 10 de outubro de 2019

O Último Grande Herói

No mesmo anos (1993) em que foi lançado um dos grandes sucessos do cinema (“Jurassic Park”, de Steven Spielberg), Hollywood também conheceu um de seus grandes fracassos.
Entretanto, “O Último Grande Herói” não obedece aquela previsível e pouco realista dicotomia na qual um filme que fracassa é necessariamente um filme ruim.
Então um astro absolutamente consolidado do cinema, Arnold Schwarzenegger vinha de sucessos maciços (inclusive também de crítica!) como “O Vingador do Futuro” e “O Exterminador do Futuro 2”. Cada filme seu, não era um mero blockbuster, era um acontecimento: Para se ter ideia, houve um rumor de que este “O Último Grande Herói” teve sua divulgação estampada num ônibus especial que ficou em órbita da Terra por algum bom tempo!
Reeditando a colaboração com o diretor john McTiernam –ao lado do qual fez o clássico de ação “O Predador” –Schwarzenegger estrelou um projeto carregado de pretensão, inclusive nas entrelinhas, e de uma talvez inapropriada metalinguagem.
Ao abraçar o título “O Último Grande Herói”, e ainda por cima, estabelecer uma nada discreta comparação com “Hamlet”, de Shakespeare, numa cena bem impertinente, o filme de McTiernam coloca Arnold como o ápice do gênero que ele estrelou –e, talvez, ele fosse mesmo, só não havia necessidade de massagear o ego dele ao fazer isso explícito na premissa.
As coisas começam com o garoto danny (Austin O’Brien que resume à perfeição todo ônus de se ter uma criança no elenco de um filme), fã número 1 de Jack Slater, personagem fictício de uma série de filmes estrelados pelo próprio Arnold Schwarzenegger (!).
De posse de um ingresso de cinema mágico –ou algo assim... –o garoto consegue invadir o mundo dentro do qual o novo filme de seu ídolo se passa –no melhor estilo “A Rosa Púrpura do Cairo –e, ao encontrá-lo passa a tentar, a todo custo, convence-lo de que, deveras, estão em um filme.
Essa insistência do personagem –que não demora a se tornar irritante –depõe bastante contra o filme: Apesar da direção hábil e inspirada de McTiernam no belo manejo de ação desenfreada e até mirabolante combinada com aspectos de comédia, o garoto interrompe o frenesi o tempo todo com tais afirmações comprometendo a ‘suspensão de descrença’ do expectador, esfriando a imersão e a cumplicidade do público.
O filme deveria tornar-se ainda mais irônico, auto-referente e mordaz quando seu protagonista sai da tela e vem para o mundo real; claro, com um vilão oriundo do filme também a segui-lo (e maravilhado com a impunidade que a realidade cruel proporciona aos maus), porém, não é exatamente isso que acontece já que o filme de McTiernam começa a revelar alguns desmazelos, consequência do roteiro de fôlego extremamente curto de Zack Penn, Shane Black e David Arnott.
Ainda assim sobram alguns lampejos interessantes como a presença de F. Murray Abrahmas (apontado pelo garoto como “o cara que matou Mozart!”), a divertida referência a “O Sétimo Selo”, de Bergman (embora a grande maioria dos fãs de pancadaria e de Shwarzenegger não devam ter entendido do quê se trata) –com a Morte interpretada por (vejam vocês!) Ian McKellen, antes de ganhar fama –e as presenças ocasionais nos papéis deles mesmos de Jean Claude Van Damme e do próprio Arnold Schwarzenegger.
“O Último Grande Herói”, portanto, passa longe de ser um filme ruim (a perícia do diretor John McTiernam não permitiria que o fosse), mas padece de um série de boas ideias que, justapostas umas às outras, se contradizem e se auto-sabotam, terminando por incorporar um produto estranho ao seu público. Pecado que, no disputado verão norte-americano, revelou-se mortal.
Schwarzenegger, ao menos, mostrou-se esperto e atento aos erros cometidos para com eles aprender: Seus trabalhos seguintes, plenamente satisfatórios para seus expectadores, foram a formidável aventura “True Lies” (novamente sob a direção de James Cameron) e a graciosa comédia “Júnior” (novamente sob a direção de Ivan Reitman, com quem fez o bem-sucedido “Irmãos Gêmeos”).

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