sexta-feira, 17 de abril de 2020

Sayonara

Os primeiros takes de “Sayonara” deixam evidente a intenção do diretor Joshua Logan (de “Férias de Amor”) em agregar algo da narrativa característica do cinema japonês, objetivo que ele vai gradativamente abandonando a medida que o roteiro de seu drama acomoda cada vez mais predicados e expedientes hollywoodianos.
“Sayonara” se passa na Guerra da Coréia, uma década após os eventos da Segunda Guerra Mundial. O habilidoso aviador, major Lloyd ‘Ace’ Gruver (Marlon Brandon, no auge de seu estrelato) é despachado para o Japão por intermédio de seu mentor, o General Webster (Kent Smith), que está a poucos passos de ser também seu sogro: Gruver está em processo de noivar com a filha dele, Eillen (Patricia Owens).
Nesse ínterim, Gruver deveria convencer outro militar, também ele enviado ao Japão, a desistir de seu casamento com uma japonesa, prática vista com maus olhos pelo Exército Americano –no entanto, tudo o que Gruver consegue é que Joe Kelly (Red Buttoms) se torne seu amigo e acabe convidando-o como padrinho de seu casamento com Katsumi (Miyoshi Umeki).
No Japão, Gruver se depara com a forte segregação imposta pelo Exército Americano (então em ocupação no país) que reprime completamente o envolvimento de soldados americanos com cidadãs japonesas; exemplo disso não só é o matrimônio de Kelly e Katsumi, mas também as casuais tentativas do capitão Mike Bailey (James Garner) em sair com uma dançarina.
É ao lado de Mike que Gruver, durante um dos atritos em seu relacionamento morno e impessoal com Eillen, conhece as Dançarinas de Matsubayashi, e encanta-se por sua estrela principal, a radiante Hana-Ogi (Miiko Taka).
Gruver sente por ela um arrebatamento que sua noiva jamais lhe despertou nem mesmo em sentido figurado.
Nas semanas seguintes, esforça-se por chamar-lhe a atenção: As Dançarinas de Matsubayashi, em especial as protagonistas de suas peças como Hana-Ogi, recebem vigilância cerrada o que as torna quase inacessíveis.
Todavia, Kelly e Katsumi são amigos de Hana-Ogi, e conseguem arquitetar um encontro dela com Gruver em sua residência, permitindo assim que a paixão se concretize.
Sem pressa e atento a todos os minimalismos dramáticos de seu competentíssimo elenco, o diretor Joshua Logan não se furta de narrar uma história de amor com seus elementos clássicos a impor barreiras aos apaixonados. Aqui, a memória recente de Segunda Guerra Mundial leva Hana-Ogi inicialmente a rejeitar Gruver, pois seu pai foi vítima das bombas atômicas; depois, quando ela se rende ao amor, é a própria condição existencial das nações, ainda a enxergar-se como inimigos de guerra que os separam –o exército, na forma de seus oficiais, tenta o possível para impedi-los de se amar.
Não só Gruver e Hana-Ogi, diga-se: Também Kelly e Katsumi sofrem com essa imposição e, num tratamento bem mais breve, testemunhamos vislumbres de Eillen, afastando-se de Gruver e enamorando-se pela sensibilidade de um ator de teatro kabuki, Nakamura, vivido com delicadeza por Ricardo Montalban (que, longe de ser japonês, adquire essa etnia graças à pesada maquiagem).
Diretor de origens teatrais, Joshua Logan trata sua obra enfatizando o melodrama no preciosismo das boas atuações (Red Buttoms e Miyoshi Umeki ganharam ambos os Oscar 1958 de Melhores Coadjuvantes) e construindo situações que se seguem com naturalidade sobrepujando a exigência da considerável duração. Expectadores mais familiarizados com a cultura japonesa irão identificar algumas irregularidades na reconstituição do filme, entretanto, mais do que sua eficácia na caracterização, seu grande mérito é mesmo ser uma das primeiras superproduções a revelar aspectos do Oriente (culturais, inclusive) às plateias ocidentais.
Para tanto, a edição emprega ritmos simultâneos que expõem os diversos rituais que integram vários dos eventos triviais japoneses com uma alternância irregular –ora é pausado e contemplativo; ora, cadenciado e ininterrupto –essas características desiguais inicialmente tornam peculiar o resultado, mas o filme como um todo logo adquire equilíbrio conquistando o envolvimento e a empatia do expectador.

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