domingo, 19 de abril de 2020

Tuff Turf - O Rebelde

O conceito, e por que não o personagem principal também, de “Juventude Transviada” servem aos propósitos narrativos deste filme do diretor Fritz Kiersch –um jovem lidando com problemas pessoais na ebulição de seus hormônios e de seu temperamento –contudo, como tal filme trata-se de uma aventura escapista bastante típica dos anos 1980, o ‘rebelde sem causa’ é convertido aqui numa espécie de superherói estudantil oposto a um grupo maligno de vilões que nada mais são do que deliquentes que ameaçam os alunos de um colégio suburbano.
O que afasta a realização do banal é que seu diretor abraça a união desses conceitos em princípio incompatíveis (o herói cujos recursos servem a uma cruzada contra seus inimigos, representantes inconfundíveis das forças do mal; e o drama juvenil de precisar se impor num ambiente completamente novo e hostil) e constrói, com isso, uma aventura pulsante, orgânica e vibrante sobre jovens em rota de colisão.
Se existem reflexões –a analogia da luta de classes, talvez –elas se perdem em redundância diante da condução envolvente que é obtida aqui.
Ostentando algum carisma e alguma autoridade –e assim, fazendo alguma justiça à memória de James Dean –o jovem James Spader empresta certa segurança ao protagonista Morgan Hiller, um jovem de famíla rica vindo de Connecticut, cuja falência do pai o leva a mudar-se para a Califórnia –e, por conta disso, para uma espécie diferente da escola com a qual estava acostumado.
Todavia, como é providencialmente sugerido numa citação feita logo no começo (“Grandes espíritos encontram violenta oposição”), a nova escola será um teste de fogo: O lugar é dominado por gangues de delinquentes e, de pronto, o porte de Morgan já lhes inspira imediato antagonismo.
Não que ele não faça amigos –o deslocado jovem vivido por um iniciante Robert Downey Jr. é um deles –mas, seus inimigos são mais emblemáticos: O líder da gangue, Nick (Paul Mones, à beira da histeria), vira praticamente seu inimigo mortal –animosidade intensificada quando Morgan começa a flertar (e é correspondido!) com a namorada dele, Frankie (Kim Richards).
Analisado com imparcialidade –e descontando a mágica transfiguração da nostalgia da década de 1980 –“Tuff Turf” é uma realização vasta em elementos questionáveis: Os diálogos do roteiro, em especial, são particularmente mal elaborados; espera-se o tempo todo que alguma informação relevante vá sair da boca de algum personagem, algum indício de suas motivações, algum detalhe mais elucidativo do passado do protagonista em Connecticut onde vivia como burguês (diferente da mudança de vida em Los Angeles), mas não há absolutamente nada. É, no entanto, a direção de Fritz Kiersch que impõe um estilo por meio do qual o filme consegue se fazer memorável: Na natureza juvenil e eletrizante do triângulo amoroso central, na concepção colorida e deliberadamente afetada de inúmeras cenas que, por isso mesmo, ficam na memória (a coreografia insana nas cenas de dança, sobretudo, aquela em que Kim Richards chama a atenção numa danceteria; os vários enfrentamentos do herói contra os delinquentes) e na dramatização quase operística que é feita de intrigas e desavenças suburbanas que ganham aqui ares épicos do embate do bem contra o mal.

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