Juntos, o ator Pierce Brosnan e o diretor John
McTiernam realizaram o suspense de baixo orçamento “Delírios Mortais”, em 1985.
catorze anos depois, em 1999, eles tornaram a se reunir nesta refilmagem de
“Crown-O Magnífico”, na qual Brosnan –então já festejado como novo intérprete
de “007” –almejava investir em um personagem marcante que o afastasse da
esmagadora sombra de James Bond.
Trata-se de um esforço válido e admirável e –o
melhor! –que resultou num filme excelente: “Thomas Crown” pega a trama básica
do filme original dirigido por Norman Jewinson e a ela acrescenta percepções
cínicas e mundanas dos anos 1990 de então –período ao qual sua premissa se
encaixa com uma exatidão notável.
O milionário Thomas Crown, vivido com fleuma
inabalável por Brosnan, cultiva uma fachada impecável de empresário dedicado,
sofisticado, culto e satisfeito.
No roteiro melindroso que tece, o filme de
McTiernam coloca seu protagonista como um dissimulador tão extraordinariamente
competente que não é permitido nem mesmo ao expectador vislumbrar suas
insatisfação –mas, ela está lá.
E é ela que leva Crown a organizar um assalto
perfeito à uma galeria de arte.
A execução do assalto, por sinal, é
primorosamente bem realizada, à frente e atrás das câmeras –contando ainda com
a presença de um Vin Diesel ainda iniciante –embora seus autores sejam
descobertos e capturados.
Contudo, o fracassado de tal operação já estava
nos planos de Crown: Enquanto os assaltantes contratados por ele se dão mal,
distraindo a eficiente estrutura de segurança do museu, Crown rouba
pessoalmente uma pintura de Monet, o quadro mais valioso do local, com suas
próprias mãos e sai andando pela porta da frente.
Roubo executado, eis que entra em cena aquela
que circunstancialmente pode ser considerada a personagem principal de fato –no
sentido de que é ela, e não Thomas Crown, os olhos da plateia –a investigadora
da companhia de seguros Catherine Banning, vivida por uma belíssima e
escultural Rene Russo que, do alto de seus 45 anos de então, demonstra química
singular e afiada com Brosnan, aparece nua e dá um banho de sensualidade em
muita atriz de vinte anos.
Cahterine sabe que o entediado Crown está
envolvido até o pescoço com o ocorrido –prová-lo é, entretanto, o grande
desafio dela e de seu parceiro, o investigador bem menos sofisticado
interpretado por Denis Leary (de “O Espetacular Homem-Aranha”).
São hilárias as tentativas dele em fazer um
cerco ao escorregadio milionário –como quanto tenta invadir a mansão dele com
um mandato de busca em mãos, e Crown tem, entre seus amigos pessoais, o próprio
advogado (vivido por Ben Gazzara), o que neutraliza qualquer burocracia que
poderia beneficiar as ações do investigador.
A tática de Catherine, entretanto, é mais
eficaz: Ela enreda (e desafia) Crown num terreno em que ele se julgava
predominante, a sedução, ciente também de que não é por qualquer valor
financeiro que ele empreendeu sua travessura, mas, para conferir algum desafio
à sua vida tão estável. E é, de certa forma, como um desafio que Catherine se
apresenta.
Assim, indo na contramão do
cinema comercial habitual às plateias –e contrariando até mesmo o que se
esperava do diretor John McTiernam, um especialista em ação –“Thomas Crown”
revela-se uma obra onde a ação (ainda que ela exista) possue menos peso
narrativo do que as guinadas de roteiro e as orientações íntimas dos
personagens; ficamos até a última cena em dúvida acerca de qual é o real
objetivo de Thomas Crown (e também quais são, de fato, seus sentimentos por
Catherine), quando por fim seu plano final é revelado numa sequência
brilhantemente dirigida, montada e roteirizada.
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