sexta-feira, 15 de maio de 2020

Thomas Crown - A Arte do Crime

Juntos, o ator Pierce Brosnan e o diretor John McTiernam realizaram o suspense de baixo orçamento “Delírios Mortais”, em 1985. catorze anos depois, em 1999, eles tornaram a se reunir nesta refilmagem de “Crown-O Magnífico”, na qual Brosnan –então já festejado como novo intérprete de “007” –almejava investir em um personagem marcante que o afastasse da esmagadora sombra de James Bond.
Trata-se de um esforço válido e admirável e –o melhor! –que resultou num filme excelente: “Thomas Crown” pega a trama básica do filme original dirigido por Norman Jewinson e a ela acrescenta percepções cínicas e mundanas dos anos 1990 de então –período ao qual sua premissa se encaixa com uma exatidão notável.
O milionário Thomas Crown, vivido com fleuma inabalável por Brosnan, cultiva uma fachada impecável de empresário dedicado, sofisticado, culto e satisfeito.
No roteiro melindroso que tece, o filme de McTiernam coloca seu protagonista como um dissimulador tão extraordinariamente competente que não é permitido nem mesmo ao expectador vislumbrar suas insatisfação –mas, ela está lá.
E é ela que leva Crown a organizar um assalto perfeito à uma galeria de arte.
A execução do assalto, por sinal, é primorosamente bem realizada, à frente e atrás das câmeras –contando ainda com a presença de um Vin Diesel ainda iniciante –embora seus autores sejam descobertos e capturados.
Contudo, o fracassado de tal operação já estava nos planos de Crown: Enquanto os assaltantes contratados por ele se dão mal, distraindo a eficiente estrutura de segurança do museu, Crown rouba pessoalmente uma pintura de Monet, o quadro mais valioso do local, com suas próprias mãos e sai andando pela porta da frente.
Roubo executado, eis que entra em cena aquela que circunstancialmente pode ser considerada a personagem principal de fato –no sentido de que é ela, e não Thomas Crown, os olhos da plateia –a investigadora da companhia de seguros Catherine Banning, vivida por uma belíssima e escultural Rene Russo que, do alto de seus 45 anos de então, demonstra química singular e afiada com Brosnan, aparece nua e dá um banho de sensualidade em muita atriz de vinte anos.
Cahterine sabe que o entediado Crown está envolvido até o pescoço com o ocorrido –prová-lo é, entretanto, o grande desafio dela e de seu parceiro, o investigador bem menos sofisticado interpretado por Denis Leary (de “O Espetacular Homem-Aranha”).
São hilárias as tentativas dele em fazer um cerco ao escorregadio milionário –como quanto tenta invadir a mansão dele com um mandato de busca em mãos, e Crown tem, entre seus amigos pessoais, o próprio advogado (vivido por Ben Gazzara), o que neutraliza qualquer burocracia que poderia beneficiar as ações do investigador.
A tática de Catherine, entretanto, é mais eficaz: Ela enreda (e desafia) Crown num terreno em que ele se julgava predominante, a sedução, ciente também de que não é por qualquer valor financeiro que ele empreendeu sua travessura, mas, para conferir algum desafio à sua vida tão estável. E é, de certa forma, como um desafio que Catherine se apresenta.
Assim, indo na contramão do cinema comercial habitual às plateias –e contrariando até mesmo o que se esperava do diretor John McTiernam, um especialista em ação –“Thomas Crown” revela-se uma obra onde a ação (ainda que ela exista) possue menos peso narrativo do que as guinadas de roteiro e as orientações íntimas dos personagens; ficamos até a última cena em dúvida acerca de qual é o real objetivo de Thomas Crown (e também quais são, de fato, seus sentimentos por Catherine), quando por fim seu plano final é revelado numa sequência brilhantemente dirigida, montada e roteirizada.

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