segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Entre Elas


 Em diversas características, como tom de abordagem, paleta visual e atmosfera formal, este bom trabalho da diretora Nancy Weckler (que trabalhou como atriz em “O Uivo da Bruxa”) lembra muito “Almas Gêmeas”, de Peter Jackson, curiosamente lançado no mesmo ano de 1994, e tal como ele, inspirado em fatos reais.

Durante a década de 1930, numa cidade francesa, as duas irmãs Papin, Christine (Joely Richardson) e Lea (Jodhi May), outrora separadas na infância, voltam a conviver uma com a outra a partir do momento em que passam a trabalhar juntas como empregadas domésticas na casa da abastada Sra. Danzard (Julie Waters) que mora com sua filha Isabelle (Sophie Thursfield).

Zelosa para com a irmã mais jovem, Christine, a mais velha, passa a orientá-la quanto à sua procedência dentro da casa. O filme registra assim uma retomada de relação parental que, diferente do rumo ameno e normal que poderia tomar, ganha alarmante intensidade –detalhe esse que, devido à exaustão emocional e psicológica a elas imposta, galga para a tragédia a medida em que, quando é percebido, esse desvio já não pode mais ser contido.

Este provocante drama de conotações feministas dedica-se à duas observações distintas: Numa, está em foco a vida proletária dos anos 1930, onde a ocupação como empregada chega às raias da escravidão; noutra, a relação entre Christine e Lea que, do contrate entre as distinções de personalidade –a primeira é impetuosa e tempestuosa; a segunda, submissa e frágil –migra para uma dinâmica incontrolavelmente incestuosa.

Com essa audaz e incisiva premissa –acrescida do retrato, também contextualizado pela dramaturgia à sua época, da patroa e sua filha –o filme oferece quatro personagens reprimidas e solitárias devido à diferentes circunstâncias a rondá-las –com ênfase indiscutível nas duas irmãs –investigadas em suas nuances íntimas, o que permite revelar ao expectador pulsões de transgressão que irão desdobrar-se mais a frente, sobretudo, a relação cada vez mais obcecada, de um teor cada vez mais sexual, que orienta a aproximação de Christine e Lea.

Nenhum comentário:

Postar um comentário