Filmes sobre náufragos numa ilha deserta existem aos montes –provavelmente em função do grau de interesse e fascínio que essas situações-limites despertam no público –e vão desde o romântico “A LagoaAzul”, ao antológico “Náufrago”, com Tom Hanks, passando pelas duas versões de “Por Um Destino Insólito” (uma dirigida por Lina Wertmüller com Giancarlo Giannini; a outra, por Guy Ritchie, com Madonna).
“Three” –ou “Jogo Pela Sobrevivência” –poderia
ser definido como uma quase refilmagem dessas duas últimas obras citadas tal é
o grau de semelhanças em sua premissa. Entretanto, como em qualquer caso, ele
busca oferecer um diferencial, sendo pretensamente o embate entre dois machos
alfas pela única fêmea disponível –o que remete o regresso do homem civilizado
à barbárie como visto também em “O Senhor das Moscas” –mas, acaba se destacando
mesmo por trazer a deslumbrante Kelly Brook em extasiantes cenas de bikini (ou
às vezes, até sem ele!).
O início em terra-firme mostra o casal Jennifer
(Kelly) e Jack (Billy Zane, se achando o máximo em sua canastrice) partindo
para um cruzeiro particular junto de outros amigos num iate cujo requinte já
denuncia a elevada classe à que pertencem. Empregado nesse barco, o explosivo
Manuel (o péssimo Juan Pablo Di Pace, além de qualquer esperança) tem, logo ali
no cais, uma calorosa discussão com a ex-namorada; a mesma que, mais tarde,
realiza uma mandinga para azarar a vida do infeliz.
Com efeito, em alto-mar, o iate sofre um
incêndio obrigando todos a deixar a embarcação e partir para os botes. Após uma
tempestade, Jennifer consegue checar sozinha, a nado, numa ilha deserta e
recebe, pouco depois, a companhia de Manuel: São os dois, portanto, os únicos
sobreviventes do naufrágio.
Ao longo dos dias, eles constroem um
relacionamento cúmplice definido pela atração explícita que Manuel passa a
expressar por Jennifer, no entanto, não tardam a descobrir Jack, ferido e
desorientado ali por perto. Assim, a dinâmica que perdura por todo o restante
do filme é a de um tenso triângulo amoroso: Jack se mostra ameaçador, triturado
por ciúmes pelo tempo que sua mulher passou com o outro –e durante o qual ele
supõe que coisas nada ortodoxas aconteceram –já, Manuel se ressente da posição
de minoria proletária e classe-média que, mesmo ali, tentam lhe impor, e reage
a tudo violentamente.
Há um equilíbrio de tensões e forças em
constante provação: Jack tem um isqueiro (logo, o fogo); Manuel tem um faca.
Jack é o marido de Jennifer e, ladino, usa isso como vantagem existencial sobre
o outro; Manuel sabe onde e como caçar nos recifes para obter comida.
Por sua vez, Jennifer, o ponto de desequilíbrio
e de discórdia nessa rivalidade, oscila entre um e outro, procurando se manter
leal à Jack e ao laço conjugal de civilização que lhe une a ele (e ali, cada
vez mais passível de questionamento), mas não deixa de ceder gradualmente aos
desejos manifestos por Manuel.
Essa richa primitiva de ordem afetiva –e que
reflete uma curiosa alegoria da luta de classes –é o que movimenta o drama
(mais até que a sobrevivência mencionada no título nacional) e que conduz tudo
à uma tragédia.
Além de toda a infinidade de filmes sobre
náufragos que vieram antes dele, “Three” lembra muito também a circunstância
concebida no suspense “Faca Na Água”, de Roman Polanski, embora essa
referência talvez escape ao conhecimento do diretor e roteirista Stewart
Raffill; ainda que seu trabalho seja envolvente pelo simples atrativo básico da
boa ideia central, sua condução é frouxa, seu roteiro, claudicante, e da
narrativa que elabora salvam-se, quando muito, as ocasionais tomadas
paradisíacas, e a presença encantadora e sedutora de Kelly Brook, apesar de sua
beleza ser inverossímil para a situação periclitante em que é submetida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário