segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Pavoncello

 


O Sr. Fosca (Stefan Friedmann) toca um violino numa sala de cinema mudo na Itália do início do Século XX. Seu pendor artístico é maior que sua ocupação medíocre pode albergar, mas por necessidade, Fosca sufoca suas aspirações para fazer a trilha sonora de fundo de filmes mudos insignificantes.

Isso até o dia em que entra no recinto a jovem e belíssima Sra. Shchebeneva (Joanna Kasperska), cuja beleza não passa despercebida de Fosca –tal é seu assombro por ela, que Fosca é despachado dali para o olho da rua e, lá mesmo, ainda a chafurdar na poça de lama, ele é convidado a tocar seu violino numa festa privada a ser realizada na casa do marido de Shchebeneva, notadamente mais velho que ela.

Fosca vai e, na sucessão de acontecimentos, se torna amante de Shchebeneva.

Entretanto, este não é, e nem seria mesmo, um caso de amor: Nas inclinações analíticas para com o drama humano que o diretor polonês Andrzej Zulawski explorou de forma desconfiguradora em sua carreira, e nas intenções contraventoras do cinema polonês de então, “Pavoncello” quer mais é olhar para a superficialidade dos sentimentos, e vislumbrar por meio disso a volatilidade emocional e a ausência alarmante de empatia da classe burguesa.

Em 1967, na sua primeira realização em média-metragem (dura cerca de 30 minutos) –depois ele ainda faria outro média-metragem (“The Story Of Triumphan Love”, de 1969) para então estrear em longas com “A Terça Parte da Noite”, em 1971 –o grande diretor Andrzej Zulawski brinca de Luchino Visconti, sublinhando valores admiráveis de produção como a bela cenografia, a fotografia em preto & branco, e a música (enfatizada em arranjos preciosistas), tateando um estilo que viria a se concretizar em marcantes projetos futuros e descobrindo nesse caminho uma voz e uma energia que pegariam de surpresa o mundo do cinema.

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