Parte coreano, parte chinês, “A Lenda do Lago do Mal” é uma produção que se permite afetar por sua incerta procedência: É um pouco inúmeras coisas, sem ser nenhuma por completo; filme épico romântico, artes marciais, filme de espíritos.
Na antiguidade do Oriente –o tempo é definido
como 57 A.C. –num reino conhecido como Shilla, um monarca usa de uma espada
mágica para aprisionar um temível feiticeiro, Auta (Park Dong-Bin), nas
redondezas de um lago, desde que tal espada (à exemplo de “Excalibur”)
permaneça cravada ao solo.
Milênios se passam e a então imperatriz de
Shilla, a bela Jinseong (Hye-Ri Kim) enfrenta levantes de forças rebeldes
refugiados nas florestas. Seu grande ás contra os inimigos –e seu grande amor,
mal disfarçado dos demais –é o valoroso General Biharang (Jung Joon-Ho) que, a
despeito da lealdade à sua rainha, almeja uma vida pacata para poder desposar
da camponesa Junbie (Kim Hyo-Jin). Contudo, as intrigas palacianas de praxe
–visando o enfraquecimento político de Jinseong a começar pela neutralização de
seu mais hábil guerreiro –conspiram para que dois homens sejam enviados para
matar Junbie na floresta, enquanto Biharang se vê ausente nos campos de
batalha..
Ela foge, perdendo-se na mata e, em desespero
ante seus algozes, arranca uma espada da terra para proteger-se; mas, eis que
trata-se da espada mágica que aprisionava o espírito vingativo de Auta (!). Quando
Junbie, incapaz de fugir de seus perseguidores, resolve se jogar no lago, Auta
toma seu corpo, e assim, munido de seus poderes agora libertos –e um tanto
irregulares em seus propósitos –parte para uma espécie de vingança, primeiro
matando esses homens que fizeram mal à Junbie, e depois dando início ao plano
de eliminar a rainha Jinseong, como Auta havia prometido ao antepassado dela,
caso escapasse.
E já nessa manobra, percebemos que o roteiro se
esquece de delinear seus personagens: Afinal, aquele corpo que representa o
antagonismo do filme é ocupado por Junbie ou por Auta? Nesse sentido, as
motivações se confundem. Com um uma expressão a lembrar as aparições
fantasmagóricas de “O Chamado” ou “O Grito”, a bonitinha Kim Hyo-Jin exibe
poderes sobrenaturais –como voos e trucagens mais comuns em artes marciais
wuxia (!) –e, na maior parte do tempo, segue o plano maligno do feiticeiro, mas
em muitos momentos parece preservar as vontades e os interesses do Junbie –num
recurso que mais aponta para uma fragilidade do roteiro do que para
complexidade de fato.
E o filme dirigido por Lee Kwang-Hoon segue
nada harmonioso, procurando unir, numa produção sul-coreana –diga-se despida de
tradições envolvendo fantasias de artes marciais –os elementos canônicos dos
filmes wuxia chineses, embora as sequências ao estilo “O Tigre e O Dragão” ou
“A Tocha de Zen” não apareçam como transfigurações naturais e folclóricas dos
embates assim elaborados, mas como consequências da presença muito suspeita de
magia negra. Uma opção estranha que pouco acrescenta neste filme oscilante em
diversos extremos que nunca ornam: Não é drama romântico (pois o dilema
envolvendo a rainha apaixonada, Biharang e Junbie jamais é desenvolvido o
suficiente para se aprofundar) e nem épico de artes marciais (as lutas e
batalhas são poucas, homeopáticas até, e as cenas de coreografia mais elaborada
pertencem –pasmem –à fantasma de Junbie!); não é uma aventura de fantasia
(pois, os mal explicados elementos mágicos se dispersam em meio às sub-tramas
conspiratórias de seus numerosos personagens), nem um terror de época (porque
os efeitos digitais executados nas aparições fantasmagóricas são risíveis e em
nada enfatizam qualquer teor macabro que estivesse nos planos da produção).
Quer ser um pouco de tudo isso, mas não consegue ser nada, até porque, na
variedade de cenas tão díspares em estilo e proposta, se evidencia uma produção
claudicante que ora exibe suntuosidade (sobretudo nos figurinos e na direção de
fotografia) ora deixa escapar desleixo (em cenas mal realizadas de ação).
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