O estilo de Rian Johnson encontra certa similaridade com o de Martin McDonagh, embora seja despido, diferente dele, de um contumaz fatalismo.
Johnson tem um apreço fora do comum pelos rumos
quase sempre imprevistos que um roteiro é capaz de dar à narrativa e, sob a luz
dessa percepção, praticamente todos os seus filmes são construídos –inclusive o
incompreendido “Star Wars-Episódio VIII-Os Últimos Jedi”.
Datado de 2008, “Vigaristas” acompanha as
peripécias de dois irmãos, Stephen (o inspiradíssimo Mark Ruffalo) e Bloom
(Adrien Brody) por um mundo muito parecido com o nosso em suas características
humanas, sociais, intelectuais e culturais.
Contudo, há uma série de elementos que
conspiram a favor da ideia de que tal mundo onde transcorre a história é outro
que não o real: Nele, os personagens dialogam numa verve poética e despojada,
onde sentimentos e considerações insólitas fazem parte corriqueira do ato de
interagir; e algumas leis da física e da ciência se aplicam com curiosa
ambiguidade, contribuindo para o caráter deliberadamente inesperado da
história.
O ofício de Stephen e Bloom nada mais é que
aplicar golpes que provêm um certo meio de vida aos dois, e à Bang Bang (Rinko
Kikuchi), a intrigante garota japonesa que os acompanha quase sempre como
ajudante.
Stephen planeja tais golpes com a astúcia
desigual de sua mente aguçada e Bloom, com suas feições de inocência crônica,
trata de camuflar os embustes.
Mas, essa característica de Bloom não é
fingimento: Ele realmente encontra certa perplexidade no ato do irmão enganar a
tudo e a todos sistematicamente; e um sentimento de remorso o ronda toda vez
que acontece.
À esse sentimento, somam-se uma série de outros
mais, quando os dois irmãos decidem enganar a jovem Penelope Stamp (Rachel
Weisz, luminosa) para dela usufruir da fortuna; a ideia é que Bloom, com seu
jeitão de bom-moço, seduza a garota.
Entretanto, se isso vem a acontecer –inclusive,
porque Penelope é, também ela, astuta e cheia de truques –o sentimento é
recíproco: Bloom encontra em Penelope alguém por quem se importar, e ele não
deseja vê-la prejudicada por mais um dos golpes do irmão.
Na atenção sempre interessada e interessante
dessa dinâmica, o filme de Johnson passeia por verdades e inverdades, mentiras
e golpes armados que fascinam pela forma sempre inesperada com que acabam se
descortinando ao público, oferecendo contínuo atrativo à narrativa.
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