Hoje pouco lembrado pelo público, Carlos Imperial foi uma figura ativa da cena artística brasileira entre as décadas de 1960, 70 e 80. Ator, diretor, produtor, roteirista, colunista, compositor e mais de tudo um pouco, ele atuou com relevância em jornais, TV, teatro e cinema, onde popularizou-se como um protagonista sempre mulherengo e farrista.
Datado de 1974, o filme “A Banana Mecânica”
–sátira à “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, cuja referência fica só no
título mesmo –foi um dos trabalhos que contribuíram para essa imagem, ainda
que, em sua absoluta redundância artística, poderia ser um daqueles filmes
completamente esquecidos hoje em dia, não fosse
sua exibição ocasional no Canal Brasil (onde muitas das obras de Carlos
Imperial podem ser conferidas).
Lançado ainda no auge da censura militar sobre
produtos artísticos em geral, “A Banana Mecânica” é um filme mais malicioso do
que propriamente erótico; há muitos momentos de topless por parte das atrizes do filme, mas elas jamais tiram a
calcinha, e o próprio ato sexual, num recurso muito habitual dos filmes daquele
período, é encarado com descontração e diversão luxuriante, sem neuroses ou
problematizações –que, na época já existiam sim, só eram providencialmente
deixadas de fora pelas narrativas descompromissadas: Foi essa postura de
entretenimento escapista e insinuante, cheio de humor popularesco e despido de
engajamento que passou a ser chamado de pornochanchada.
Entretanto, a produção de Carlos Imperial,
dirigida por Braz Chediak (de “Bonitinha, Mas Ordinária”) é infinitamente mais
leve e inofensiva do que obras bem mais erotizadas e sexualizadas que foram
vindo depois. Imperial interpreta o Dr. Ferrão, um analista que, em alguns
momentos, parece lembrar o icônico personagem Analista de Bagé, das tiras de
jornal de Luiz Fernando Veríssimo.
Ferrão é mulherengo e não perde um rabo de saia
de vista, ainda que sua obsessão seja mesmo a própria noiva, Cristina (a
gatinha Rose Di Primo), que até então ele não levou para a cama. A razão: Pudica,
Cristina freia os avanços de Ferrão com o argumento de que só se entregará a
ele depois do casamento.
Enquanto esse dia tão sonhado não chega, Ferrão
aproveita seu ofício para fazer análises de lindas mulheres –modelos que
desfilam na butique localizada no andar de baixo de seu consultório, da qual
Ferrão é sócio –e convencê-las a ir para a cama (!). Entre essas mulheres está
a própria tia de Cristina (Nélia Paula), cujo marido, Cornélio (Felipe Carrone),
colocou um detetive cheio de manias (Ary Fontoura) atrás dela a fim de flagrar
suas sem-vergonhices com Ferrão.
A despeito do físico rechonchudo, Ferrão atrai
muitas mulheres –como fica claro na cena da corrida na praia –e (pasmem!) até
alguns homens: Um de seus pacientes é um caricato homossexual, cujos faniquitos
afeminados devem ser ‘curados’, na trama, pelo safado doutor que lhe impõe,
como ‘terapia’, o bordão repetido à exaustão, “Eu gosto de mulher! Eu gosto de
mulher!”; um exemplo claro do trato machista e politicamente incorreto que o
cinema de então dava à essa e a muitas outras questões, inclusive a
volatilidade para com o adultério em oposição ao matrimônio: No filme, o
protagonista é absolutamente isentado de suas seguidas escapadelas com
diferentes mulheres (o fio condutor, afinal, da narrativa) e esse detalhe não
apenas é referendado, tornado banal na narrativa, como também é tão compulsivo
que chega a ser episódico.
Menos mal que, no desfecho, há uma espécie de
equilíbrio de libertinagem, quando numa orgia às escuras, Ferrão coloca pacientes
mulheres e homens para um interlúdio sexual às cegas dentro de vários quartos
de um hotel –tudo com pretextos psicanalíticos pra lá de esfarrapados
–incluindo aí o tal paciente homossexual citado acima, quando Ferrão crê que
finalmente ele será curado. Eis que então, convencida por outras opiniões, a
virginal Cristina decide participar dessa tal terapia do noivo e acaba
infiltrando-se entre os pacientes mascarados. Dotado de capacidade premonitória
que só um roteiro maniqueísta e redundante é capaz de dar, Ferrão ‘adivinha’ a
presença de Cristina no local, e resolve procurá-la de quarto em quarto,
promovendo grande confusão; termina encontrando-a no quarto com o homossexual,
cujo ‘desvio’ foi curado –ele virou ‘homem’! –às custas da virgindade da noiva
do protagonista (!).
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