sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Opening Of Misty Beethoven



 A década de 1970 teve tendências cinematográficas que embaralharam muitas definições de gênero: As mudanças de comportamento iniciadas na década anterior conduziram à algumas ousadias culturais que não tardaram a afetar o cinema, gerando obras já despidas de pudor e dando margem ao surgimento de realizadores pouco tradicionais, dispostos a forçarem os limites.

Sempre vivendo em nichos alternativos, reclusos e obscuros, o gênero pornográfico começou, com isso, a ganhar holofotes tão evidentes quanto o cinema convencional –e isso levou à obras que confundiam as fronteiras de um e de outro. Com efeito, são desse período os fenomenais “O Último Tango Em Paris” e “O Império dos Sentidos”.

Foi também nesse período que essa junção de fatores –uma preocupação mais saudável com a narrativa e com o visual estético, em equilíbrio com a demanda de nudez e sexo do gênero –proporcionou ao diretor Radley Metzger a realização de um filme de tal maneira caprichado e bem acabado que hoje desfruta da talvez um tanto exagerada alcunha de “Cidadão Kane” dos filmes pornôs.

“Opening Of Misty Beehoven” é, sem a menor intenção de esconder, uma versão erótica do “Pigmalião”, de Bernard Shaw, tanto quanto o foi o oscarizado “My Fair Lady” antes dele, e o bem-sucedido “Uma Linda Mulher” (além de inúmeros outros títulos) depois.

Dessa forma temos então o  personagem de Seymour Love (Jamie Gillis) um especialista em sexualidade que, diante de certo marasmo no qual se resumiu sua vida burguesa e de uma eventual aposta feita com uma colega socialite, resolve provar que pode pegar a mais mundana prostituta das ruas e converter numa mulher sedutora da mais alta classe.

Tal escolhida vem a ser a própria personagem-título Misty Beethoven (a sensacional Constance Money) que se submete às inusitadas aulas prestadas por seu novo mentor que incluem etiqueta, aprimoramento da própria imagem e novos truques sexuais.

É sempre aberto a ressalvas quando se afirma que determinado filme é ‘o melhor de um gênero’, contudo, “Opening Of Misty Beethoven” é realmente uma obra fácil de conquistar o expectador diante da elevação de qualidade que a direção inspirada de Metzger exerce, ainda que muitos possam apontar  as deficiências que o tempo lhe impôs, tornando-o mais um objeto de curiosidade por parte de sua estética diferenciada do que apreciação por sua qualidade de fato.

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