Iluminação de neon (quase sempre cor-de-rosa); roupas de cor berrante e caimento incompatível; gel em profusão nos cabelos arrepiados; e uma sonoridade a um só tempo descontraída e melancólica, na qual predominava o uso imodesto de sintetizadores.
Se é certo que “Garotas Modernas” está à léguas
de distância de ser um bom filme, é certo também que seu retrato da década de
1980 é, hoje, digno de estudos, tal é a proximidade com que ele chega da
afetação e da caricatura que definiu o período (mais até do que muitos filmes
reconhecidos daquela década).
Até pelo título que possui, somos levados a
crer que o filme é a história das três jovens introduzidas no início: Margo
(Daphne Zuniga, de “Garota Sinal Verde” e da série “Melrose”), Cece (Cynthia
Gybb, de “Salvador-O Martírio de Um Povo”) e Kelly (Virgina Madsen). As três
garotas moram juntas e mantêm uma dinâmica muito específica (e formulaica)
entre si: Margo é descolada e até certo ponto cínica, nada a surpreende e
desconfia de todos: Cece é sonhadora e desleixada (a ponto de já começar a
trama perdendo o emprego), só sabendo falar do astro musical por quem é
apaixonada, um certo Bruno X; enquanto Kelly é a destruidora de corações: Não
são raros os homens que se enfileiram atrás dela ignorando as outras duas –e,
com efeito, essa personagem é a menos aproveitada em suas vulnerabilidades e a
mais mal desenvolvida em meio à muitos personagens mal desenvolvidos.
Com uma lentidão perceptível já nos primeiros
minutos de filme, a trama se inicia de fato quando Margo e Cece recebem em seu
apartamento um dos muitos admiradores de Kelly, o acanhado Clifford (Clayton
Rohner, de “Quase Igual Aos Outros”).
Como faz com quase todos os homens, Kelly o
desprezou partindo para a balada, levando o carro que todas usam. A saída
encontrada por Margo e Cece é levar o ingênuo Clifford na conversa para que ele
as leve com seu carro para lá e para cá
E está resumido, assim, basicamente o que
“Garotas Modernas” é: Um vai e vem trivial e irrelevante por baladas dos anos
1980 –ou o que supõem-se que seriam as baladas dos anos 1980 –onde estão em
foco os amores egocêntricos a apáticos das três garotas, e uma série de
situações que hoje seriam de uma abordagem bem mais controversa: Caso do quase
estupro da personagem de Madsen na mesa de bilhar de um bar (tratado com
assustadora normalidade) e mesmo da promiscuidade dela, tão sugerida quanto
latente.
No mais, as protagonistas oferecem uma visão
quase amoral do romance idealizado –onde importam menos as pessoas ao seu
redor, ou nem mesmo seu objeto do desejo, e mais um capricho imediato assim
atendido. Cece, por exemplo, ao encontrar num clube noturno seu adorado Bruno X
(também ele interpretado por Clayton Rohner, numa manobra que jamais explica
sua razão de ser) arrasta todos consigo indo nos lugares em que ele
supostamente estaria: Kelly, aparecendo lá pelas tantas, apesar de todos os
admiradores que tem para escolher, oscila entre um pretendente pior que o outro
–em especial entre o narcisista e desprezível Brad (Stephen Shellen, de “Nada É Para Sempre”) e o truculento e grosseiro Ray (Chris Nash, de “A Primeira Transa de Jonathan”) –enquanto que, por fim, Margo, um espécie de vigia para as
inconsequências das outras duas termina se enrabichando com Clifford, cuja
inadequação para com tudo ao seu redor vai, aos poucos, deixando de ser tão
contundente.
Dirigido por Jerry Kramer, realizador de alguns
clipes de Michael Jackson e do longa-metragem “Moonwalker”, que parece
depositar demasiada confiança no carisma das personagens e em suas intérpretes,
“Garotas Modernas” pode ser conferido muito mais pelo curioso (e possivelmente
involuntário) retrato da decadência que já permeava alguns valores nos anos
1980, do que por sua dramaturgia (tosca) ou qualidade (claudicante) enquanto
cinema –talvez isso explique o fato de que, após sofrer uma até merecida
indiferença da parte do público em seus primeiros anos, o filme tenha passado a
atrair curiosos em suas exibições subsequentes na TV norte-americana, atraídos
por sua estranha e desconcertante caracterização.
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