quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Gigantes de Aço


 Houve um tempo em que os filmes produzidos por Steven Spielberg eram tão agraciados quanto os filmes dirigidos por ele; quando ele entregava obras de puro divertimento como “De Volta Para O Futuro”, “Gremlins” ou “Enigma da Pirâmide”. Entretanto, o público de cinema, com o passar dos anos, se tornou manhoso e meticuloso, a ponto de ignorar certos dados de produção, e focar em coisas mais aparentemente relevantes.

No caso, “Gigantes de Aço”, lançado em 2011, era produzido por Steven Spielberg (ainda com o auxílio executivo de Robert Zemeckis), mas o detalhe que mais pareceu chamar a atenção do público –além dos ostensivos, mas pontuais e bem empregados efeitos visuais –era a presença do astro Hugh Jackman, numa das inúmeras tentativas (algumas bem-sucedidas, outras nem tanto) de sair do sombra do personagem que impulsionou sua carreira: O mutante Wolverine de “X-Men”.

Todavia, diante da informação de que “Gigantes de Aço” é, sim, produzido por Spielberg, uma série de escolhas criativas se tornam um bocado compreensíveis. Há, nele, uma visão empenhada, apaixonada e rica em textura de um futuro próximo –ou, ao menos, uma faceta bastante específica de um futuro próximo –além, de um essencial relacionamento pai e filho (uma obsessão na filmografia de Spielberg) que surge sublinhado em sua problemática para adquirir detentores elementos de afeto genuíno ao longo da trama. Até mesmo a relação entre o garotinho e o robô ganha, na medida do possível, ares semelhantes aos que o realizador deu ao seu “E.T. O Extraterrestre”.

Assim, Hugh Jackman é Charlie Kenton, um ex-pugilista cujo abandono da profissão o colocou numa rota em direção ao fracasso. No futuro do qual incumbe-se o filme, o boxe a tempos deixou de envolver humanos se digladiando para trazer robôs (!), os quais, segundo o próprio Charlie, podiam ser trucidados e lutar para além de seus limites, atendendo os anseios do público. De um promissor lutador, Charlie tornou-se um treinador de robôs, mas tudo o que fez, desde então, foi colecionar derrotas e acumular dívidas.

Durante uma audiência de custódia para decidir o destino de seu filho Max (Dakota Goyo), que mal conhece, Charlie só pensa em descolar uma grana com a ex-cunhada rica a fim de comprar um novo robô e continuar no jogo, mas, Charlie deve passar algum tempo com Max.

A partir daí, acompanhamos a relutante e implicante relação entre os dois, Charlie e Max, pai e filho, determinar a narrativa –e ela é, infelizmente, previsível até a medula, sorte que, pelo menos, a astúcia interpretativa de Hugh Jackman segura maravilhosamente bem a atenção.

Max –um moleque voluntarioso e opinativo que beira o irritante –revela-se interessado nas lutas que compõem o negócio do pai e acaba insistindo na carcaça de um robô que encontram num ferro-velho, ao qual dão o nome de ‘Atom’.

É necessário que o expectador aceite uma certa aura humanamente mágica conferida ao robô Atom a partir do momento em que ele entra em cena, caso contrário, é melhor abandonar o filme. Embora nunca fique explícito –mas, sempre fique subentendido –Atom parece ter sentimentos, uma certa característica que o faz mais que uma mera máquina autômata. Em suma, tem coração (!). Com isso, na qualidade de perdedor certo, ele surpreende seus adversários e a plateia ganhando luta após luta, caminhando a passos largos para enfrentar o grande e invicto campeão da modalidade, o monstruoso robô conhecido como Zeus.

Dirigido com eficiência, mas sem o menor traço de personalidade por Shaw Levy (diretor da Trilogia “Uma Noite No Museu”), “Gigantes de Aço” não esconde o fato de ser assumidamente uma obra de entretenimento moldada a partir de uma miríade de referências cinematográficas bastante nítidas, desde o campeão que se esconde dentro de um fracassado e que passa a surpreender a todos (como em “Seabiscuit-Alma de Herói”) até o mote manjado mas sempre envolvente do ‘Davi contra Golias’, do qual “Rocky-O Lutador” é o exemplo mais notório –e este filme remete, de cabo a rabo, ao máximo de elementos possíveis do sucesso de Sylvester Stallone.

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