Houve um tempo em que os filmes produzidos por Steven Spielberg eram tão agraciados quanto os filmes dirigidos por ele; quando ele entregava obras de puro divertimento como “De Volta Para O Futuro”, “Gremlins” ou “Enigma da Pirâmide”. Entretanto, o público de cinema, com o passar dos anos, se tornou manhoso e meticuloso, a ponto de ignorar certos dados de produção, e focar em coisas mais aparentemente relevantes.
No caso, “Gigantes de Aço”, lançado em 2011,
era produzido por Steven Spielberg (ainda com o auxílio executivo de Robert
Zemeckis), mas o detalhe que mais pareceu chamar a atenção do público –além dos
ostensivos, mas pontuais e bem empregados efeitos visuais –era a presença do
astro Hugh Jackman, numa das inúmeras tentativas (algumas bem-sucedidas, outras
nem tanto) de sair do sombra do personagem que impulsionou sua carreira: O
mutante Wolverine de “X-Men”.
Todavia, diante da informação de que “Gigantes
de Aço” é, sim, produzido por Spielberg, uma série de escolhas criativas se
tornam um bocado compreensíveis. Há, nele, uma visão empenhada, apaixonada e
rica em textura de um futuro próximo –ou, ao menos, uma faceta bastante
específica de um futuro próximo –além, de um essencial relacionamento pai e
filho (uma obsessão na filmografia de Spielberg) que surge sublinhado em sua
problemática para adquirir detentores elementos de afeto genuíno ao longo da
trama. Até mesmo a relação entre o garotinho e o robô ganha, na medida do
possível, ares semelhantes aos que o realizador deu ao seu “E.T. O Extraterrestre”.
Assim, Hugh Jackman é Charlie Kenton, um
ex-pugilista cujo abandono da profissão o colocou numa rota em direção ao
fracasso. No futuro do qual incumbe-se o filme, o boxe a tempos deixou de
envolver humanos se digladiando para trazer robôs (!), os quais, segundo o
próprio Charlie, podiam ser trucidados e lutar para além de seus limites,
atendendo os anseios do público. De um promissor lutador, Charlie tornou-se um
treinador de robôs, mas tudo o que fez, desde então, foi colecionar derrotas e
acumular dívidas.
Durante uma audiência de custódia para decidir
o destino de seu filho Max (Dakota Goyo), que mal conhece, Charlie só pensa em
descolar uma grana com a ex-cunhada rica a fim de comprar um novo robô e
continuar no jogo, mas, Charlie deve passar algum tempo com Max.
A partir daí, acompanhamos a relutante e
implicante relação entre os dois, Charlie e Max, pai e filho, determinar a
narrativa –e ela é, infelizmente, previsível até a medula, sorte que, pelo
menos, a astúcia interpretativa de Hugh Jackman segura maravilhosamente bem a
atenção.
Max –um moleque voluntarioso e opinativo que
beira o irritante –revela-se interessado nas lutas que compõem o negócio do pai
e acaba insistindo na carcaça de um robô que encontram num ferro-velho, ao qual
dão o nome de ‘Atom’.
É necessário que o expectador aceite uma certa
aura humanamente mágica conferida ao robô Atom a partir do momento em que ele
entra em cena, caso contrário, é melhor abandonar o filme. Embora nunca fique
explícito –mas, sempre fique subentendido –Atom parece ter sentimentos, uma
certa característica que o faz mais que uma mera máquina autômata. Em suma, tem
coração (!). Com isso, na qualidade de perdedor certo, ele surpreende seus
adversários e a plateia ganhando luta após luta, caminhando a passos largos
para enfrentar o grande e invicto campeão da modalidade, o monstruoso robô
conhecido como Zeus.
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